Tecnologia e técnicas de autocontrole são apresentadas no Congresso Brasileiro de Cefaleia em Ribeirão Preto

outubro 13 17:28 2016

Farmacologia e técnicas comportamentais, estimuladores cerebrais profundos, estimulação elétrica transcutânea, interferência em alvos específicos (moléculas) são as novidades para tratamento para cefaleia

 

Começou nesta manhã, 13, o XXX Congresso Brasileiro de Cefaleia e XI Congresso de Dor Orofacial, promovidos pela Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe), em Ribeirão Preto (SP). A Meca da Cefaliatria, como batizaram os especialistas, está conhecendo as últimas novidades mundiais sobre o tema.

Segundo o presidente do congresso, o neurologista Carlos Alberto Bordini, o tratamento das cefaleias primárias não se restringe mais a medidas farmacológicas ou comportamentais. Cefaleias primárias são as dores de cabeça não associadas ou derivadas de alguma doença. “Como modalidades terapêuticas mais recentes temos os dispositivos em que o paciente aciona, quando necessário, ativando partes específicas do Sistema Nervoso, levando ao controle da dor”, explica.

Outras novidades, motivo de comemoração por parte dos especialsitas, são os tratamentos não invasivos por estimulação elétrica transcutânea, com alvos determinados, como o nervo vago ou nervo supra-orbital. E também os dispositivos implantáveis, como estimuladores de nervo occiptal maior. Esses nervos, quando estimulados, enviam sinais para o cérebro desativando ou diminuindo a atividade encefálica responsável pela modulação da dor.

Já os estimuladores cerebrais profundos (deep brain stimulation) são, nas palavras do presidente do congresso, “um retumbante sucesso em casos rebeldes de cefaleia em salvas”. Esses estimuladores têm sido utilizados como último recurso para cefaleia em salvas – mais frequente em homens e responsável pelas piores dores de cabeça.

Um pequeno dispositivo, do tamanho de um grão de arroz, que promove a estimulação de gânglio esfeno-palatino (gânglio sensitivo que fica no fundo da narina), também é novidade para casos rebeldes de cefaleia em salvas.

“Como respeito à migrânea, ou enxaqueca, logo teremos no mercado as drogas inteligentes; ou seja, direcionadas especificamente para alvos químicos precisos, como por exemplo, o anti-CGRP”, explica o neurologista. A CGRP é um neurotransmissor envolvido na dor da enxaqueca.

A 30ª edição do Congresso Brasileiro de Cefaleia recebe cerca de 80 especialistas brasileiros e estrangeiros. São os maiores pesquisadores mundiais do tema. Os palestrantes vão falar das últimas novidades em tratamentos, pesquisas sobre o impacto da cefaleia na vida econômica, social, familiar, acadêmica, nas empresas, cefaleia e gravidez, aids, crianças, os vários tipos de dor de cabeça etc.

A edição 2016 do congresso homenageia o que ficou conhecido como a Escola Cefaliátrica de Ribeirão Preto, que começou com três neurologistas da cidade – José Geraldo Speciali, Carlos Bordini e Marco Antonio Arruda. Em 1987 o Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP começou a atender os primeiros pacientes com cefaleia num ambulatório especialmente montado para esses fins – estava inaugurado o Ambulatório de Cefaleia.

A metodologia adotada para os atendimentos clínicos foi inovadora: nessas três décadas incluiu-se um atendimento interdisciplinar; ou seja, um paciente era sempre examinado por um médico, um dentista, um fisioterapeuta e um psicólogo. Esse ambiente inovador e diferenciado de trabalho de equipe ficou conhecido como a Escola Cefaliátrica de Ribeirão Preto. “Poucos ambulatórios no Brasil e mesmo no mundo têm este tipo de atendimento”, ressalta o neurologista José Geraldo Speciali.

No início, o atendimento oferecido aos pacientes era clínico e medicamentoso, mas com o passar dos anos foi se diferenciando e introduziram-se várias opções de tratamentos não medicamentosos e não invasivos. Hoje, o ambulatório oferece tratamentos que incluem técnicas variadas para os diferentes casos: fisioterapia, atendimento odontológico, psicológico, bloqueios anestésicos (feito com injeções de analgésicos nos pontos de dor), uso de toxina botulínica (para casos mais graves), etc.

Atualmente atendem o ambulatório médicos assistentes, médicos com especialização em dor, médicos residentes de Neurologia, médicos residentes de 4º ano na área de atuação DOR, dentista especializado em Dor Orofacial, fisioterapeutas, psicólogo, médicos residentes em Fisiatria, um docente de Neurologia e um docente sênior da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

Durante esses anos foram realizados 20 mestrados e 10 doutorados com pesquisas em cefaleia, cujos resultados foram publicados em grandes periódicos médicos do exterior. Atualmente vários desses profissionais, que fizeram essa pós-graduação em Cefaleia trabalham em faculdades ou são pesquisadores no Brasil e em importantes serviços no exterior, como é o caso de Marcelo Eduardo Bigal, atualmente um dos coordenadores de pesquisa avançada que está desenvolvendo novo produto para tratamento da enxaqueca – produto que deve chegar ao Brasil no próximo ano.

A mais recente novidade é a ressonância encefálica funcional, que avalia o consumo de oxigênio pelo cérebro e mapeia as regiões encefálicas envolvidas em uma crise de enxaqueca. Segundo Speciali, o uso da ressonância encefálica funcional deve começar em breve. A equipe médica está em fase de avaliação de pacientes e desenvolvimento da metodologia. “Mas será uma revolução na investigação das cefaleias”, comemora o especialista.

Há cerca de cinco anos o Ambulatório de Cefaleia assumiu o atendimento de outros tipos de dor – a dor neuropática, que é pouco conhecida e, por isso, negligenciada e tratada, em geral, incorretamente.

Cefaleia

Existem mais de 200 causas de a cefaleia. Algumas são consideradas primárias – são as cefaleias não associadas a uma doença ou lesão, como a dor de cabeça tensional, por estresse, por exemplo. As secundárias são causadas por traumas, AVC-Acidente Vascular Cerebral, infecções (como meningite, por exemplo) etc. Fome, frio, ressaca são outros tantos causadores de cefaleias. A cefaleia mais incapacitante é a enxaqueca e estima-se que 20% das mulheres 9,5% dos homens tenham enxaqueca.

A enxaqueca está entre as 10 doenças mais incapacitantes do mundo. Estima-se que uma em cada dez pessoas sofra de enxaqueca. O perfil incapacitante da doença muda entre homens e mulheres. Segundo Elder Machado Sarmento, neurologista do Rio de Janeiro (RJ) que participa do congresso, a enxaqueca é a quinta doença mais incapacitante entre as mulheres e, neste aspecto, é mais severa do que doenças cardíacas, hipertensão e diabetes. Do ponto de vista mental, a enxaqueca é mais incapacitante do que a depressão. Pesquisadores brasileiros estimam que 4,4 milhões de crianças no Brasil sofram de enxaqueca e mais de 3 milhões de dias escolares são perdidos ao ano em decorrência dessa doença.