Estudo sobre pescadores maranhenses é premiado em Minas Gerais

Estudo sobre pescadores maranhenses é premiado em Minas Gerais
maio 14 17:08 2013

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O universo de pescadores da comunidade de Raposa, município distante 45 km de São Luís, virou tema de uma pesquisa premiada no 1º Encontro Mineiro de Pós-graduandos, promovido por universidades de Minas Gerais, e realizado na Universidade Federal de Ouro Preto. O trabalho intitulado “Um estudo linguístico no litoral maranhense: léxico e cultura dos pescadores da Raposa, Maranhão” recebeu menção honrosa durante o encontro.

A pesquisa é fruto do trabalho de mestrado de Raquel Pires Costa, que foi bolsista da FAPEMA, é professora do Colégio Universitário da UFMA e, atualmente, doutoranda do POSLIN (Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos), da Universidade Federal de Minas Gerais. O estudo teve como objetivo mapear as expressões utilizadas por pescadores da comunidade. Ao longo de vários meses foram realizadas entrevistas, gravações e o acompanhamento do cotidiano da comunidade. “O trabalho foi desenvolvido seguindo uma metodologia já adotada com êxito em pesquisas da minha orientadora, a professora Cândida Seabra. Nela não há perguntas direcionadas, a conversa flui de forma espontânea. Conversamos sobre a chegada dos pescadores na Raposa, as mudanças ocorridas com o decorrer do tempo, aspectos da organização social, costumes, crenças e sobre a pesca propriamente dita, não apenas no que diz respeito ao seu funcionamento, como também buscando perceber os sentimentos do pescador em relação à sua profissão. Pedíamos também que fossem contadas histórias  relativas a algum risco de vida que já tivessem enfrentado em alto-mar – módulo proposto por Labov e ainda histórias de lendas/assombrações que os pescadores já tivessem ouvido falar ou já tivessem vivenciado. A ideia de ouvir e registrar estas histórias deve-se ao fato de, primeiramente, elas fazerem parte da vida e cultura dos pescadores e, também, porque é através das narrativas de experiência pessoal que conseguimos o melhor registro da língua falada, pois o locutor envolve-se emocionalmente com o conteúdo, esquecendo-se da forma“, explicou Raquel Costa.

Os pescadores sujeitos da pesquisa tinham entre 50 e 75 anos. A pesquisadora realizou esse recorte, pois ainda há um número razoável de pescadores nessa faixa etária que participam ativamente da pesca e que tanto podiam fornecer informações sobre o léxico referente à pesca, quanto prestar informações sobre costumes, organização social, dentre outros. “O pescador com idade superior a setenta anos conserva um vocabulário pouco influenciado pelos meios de comunicação, podendo revelar um léxico mais próximo do vernacular, além de conhecer as tradições culturais do seu povo”, contou a pesquisadora.

Do levantamento, Raquel Costa conseguiu enumerar 247 unidades lexicais, palavras simples e compostas características daquela comunidade, como “águas de lançamento”, “dismariscar”, “dispescar”, “mar chapéu” e “mar de rolamento”. A partir daí, uma nova fase do trabalho se desenhou: a pesquisadora precisou se debruçar em dicionários do século XVIII até os do século XXI para verificar a dicionarização ou não dessas lexias. Também pesquisou em um glossário de pesca, mas poucas palavras em comum foram encontradas.

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O ineditismo ao catalogar as expressões dos pescadores deve auxiliar a fazer uma salvaguarda do patrimônio daquela região. Quando questionada se percebeu que o seu trabalho teve um alcance bem maior do que o imaginado quando da realização do projeto, Raquel afirma: “Sim, pois possibilitou o registro de dados importantes da nossa língua, o que consequentemente possibilitará maior valorização da riqueza cultural e linguística dos pescadores”.

Após análise dos dados, constatou-se a existência de um vocabulário regional no qual os vocábulos referentes à pesca têm grande destaque e são evidentes as influências das marcas da estrutura sociocultural da região do Ceará, onde se situa Acaraú.

Para ela, o auxílio da FAPEMA foi fundamental na realização do trabalho. “Consegui realizar esse projeto em grande parte graças ao edital de Bolsas de Mestrado da FAPEMA. Mais do que um estímulo foi a forma encontrada para conseguir desenvolvê-lo, já que foi uma pesquisa dispendiosa”, explicou.