Pesquisadores do IFMA avaliam resistência de bactérias do leite

O perfil de sensibilidade aos antimicrobianos variou de acordo com a espécie das bactérias e medicamentos testados

Pesquisadores do IFMA avaliam resistência de bactérias do leite
dezembro 17 11:53 2018

A pesquisadora Kellyane Aguiar realiza análises no laboratório de microbiologia do Campus Caxias.

O leite é um dos alimentos de origem animal mais consumidos pelo homem. Por ser rico em nutrientes, pode veicular vários agentes microbianos que reduzem a sua qualidade e possibilidades de comercialização.

Há vários estudos sobre resistência bacteriana de microrganismos isolados do leite, tendo em vista que o gado leiteiro está constantemente passando por tratamento de infecções na glândula mamária. Essas infecções são tratadas com antibióticos e, se forem administrados de forma indiscriminada, pode haver o desenvolvimento de resistência a esses microrganismos patogênicos. E isto, no âmbito hospitalar, pode se tornar uma ameaça ao controle de doenças tratadas com essas substâncias.

No Maranhão, segundo a professora do IFMA Campus Caxias, Joyce Lopes, doutora em Ciência Animal pela Universidade Estadual de Londrina, já foram detectadas, em pesquisas anteriores, a presença de resíduos de antibióticos no leite nos municípios de Itapecuru-Mirim, Bacabal e na Ilha de São Luís. Porém há poucas pesquisas sobre o conhecimento desse mecanismo nos microrganismos em todo o estado.

A pesquisa

Foi nesse contexto que os estudantes do curso de Ciências Biológicas do IFMA Campus Caxias, Alisson Santos, Bruno Alves e Kellyane Aguiar, desenvolveram pesquisas com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade do leite produzido no Maranhão. Os resultados dos trabalhos, orientados pela professora Joyce Lopes, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), foram apresentados em Santiago, Chile, durante o 24º Congresso Latino-americano de Microbiologia, no mês passado.

Alisson Santos e Bruno Alves, estudantes do 8° período, dedicaram-se, entre março e julho deste ano, a verificar a sensibilidade de bactérias isoladas do leite cru a antimicrobianos vendidos nas farmácias veterinárias. As bactérias foram coletadas em amostras de leite adquiridas previamente de propriedades dos municípios de Caxias e São João do Sóter, no interior do Maranhão. E os testes foram realizados no laboratório de Microbiologia do IFMA Campus  Caxias.

A pesquisa de Kellyane Aguiar analisou o perfil de sensibilidade da bactéria Staphylococcus aureus isolada do leite cru a antimicrobianos. Essa bactéria, frequentemente encontrada na pele e nas fossas nasais de pessoas saudáveis, pode provocar desde uma simples infeção até pneumonia, impetigo, foliculite e infecção do coração.

Metodologia

Oito amostras de 500 ml de leite cru foram coletadas em três propriedades leiteiras da região de São João do Sóter e uma do município de Caxias. As propriedades leiteiras foram selecionadas diante da manifestação dos seus responsáveis pela busca da melhoria da qualidade do leite.

Após a coleta, as amostras foram armazenadas em recipientes esterilizados, identificados e transportadas em caixa isotérmica ao laboratório de microbiologia de alimentos do IFMA Campus Caxias, onde foram realizadas as análises.  “A contagem bacteriana para Staphylococcus aureus foi realizada através de Placas  Petrifilm™  Staph Express”  explica Kellyane.

Após a leitura das placas, foram isoladas 18 cepas de Staphylococcus aureus para realização dos testes antimicrobianos.  Os antibióticos usados nos testes foram azimitrocina, sulfonamidas, timetoprim, cloranfenicol, nitrofurantoina  e  cefalexina. De acordo com o Ministério da Saúde, considera-se cepa um grupo de microrganismos da mesma espécie com características genéticas e bioquímicas distintas.

A pesquisadora utilizou um método qualitativo para avaliar a atividade antimicrobiana. E os testes de sensibilidade basearam-se em padrões recomendados pelo Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI) – uma organização internacional interdisciplinar, sem fins lucrativos, que promove o desenvolvimento de diretrizes para testes de patologia clínica e questões relacionadas à atenção de saúde. “As leituras dos halos de inibição  foram  realizadas  de  acordo  com  critérios  estabelecidos pelo documento  M100-S25  CLSI  de  2018”, afirma Kellyane.

Bruno e Alisson utilizaram medicamentos antimicrobianos adquiridos das casas agropecuárias do comercial local. E, para os testes, utilizaram a técnica de difusão em discos de papel filtro impregnados com 10 µL do medicamento na concentração original.

Resultados

Os resultados do estudo da estudante Kellyane apontaram a presença da bactéria Staphylococcus aureus em 100% das amostras de leite cru.  Quanto aos testes de antibiogramas com antimicrobianos em discos, foram observadas  variações entre os perfis de sensibilidade e resistência nas cepas testadas. Elas também apresentaram resistência a mais de um antimicrobiano.

“As cepas bacterianas que eu avaliei mostraram sensibilidade a todos os antimicrobianos de uso veterinário utilizados”, afirmou Alisson Santos. “Assim, eles podem ser indicados para tratamentos dos animais, desde que sejam administrados de forma adequada e quando necessário”, prosseguiu. Dentre as cepas avaliadas por Bruno, a maioria mostrou sensibilidade a todos os medicamentos testados.

Kellyane destaca que a pesquisa possibilitou enfatizar o “uso adequado de antibióticos no tratamento de infecções no gado leiteiro”. “Isto é importante para evitar o desenvolvimento de cepas multirresistentes, o que dificultaria o tratamento de infecções causadas por esses microrganismos”, ponderou.

“Espero que surjam novas pesquisas desse tipo no estado”, afirmou Alisson Santos. “Pretendo continuar nessa linha de pesquisa em futura pós-graduação, visando uma produção local de alimentos com melhor qualidade e mais competitiva”, assinalou.

“É importante que sejam realizadas pesquisas em mais propriedades da nossa região, com a utilização de outras espécies de bactérias”, pontuou Kellyane Aguiar. “Devem ser testados antibióticos indicados para o tratamento desses patógenos, de modo a verificar sua resposta a tais tratamentos”, concluiu.