Senado discute a necessidade de profissionais qualificados nas novas tecnologias

Senado discute a necessidade de profissionais qualificados nas novas tecnologias
março 10 12:52 2010

Dando continuidade ao novo ciclo de audiências públicas organizadas com o intuito de dialogar sobre a necessidade de mais investimentos em recursos humanos para inovação e competitividade, o segundo painel promovido pelo Senado Federal, nesta segunda-feira (08), discutiu “A política de formação e capacitação de recursos humanos frente à política de desenvolvimento produtivo”.

O foco da reunião foi à assimetria do dinheiro gasto no Brasil com relação as diferentes áreas do conhecimento. Segundo o presidente do CNPq, Carlos Alberto Aragão, que participou do encontro, existem áreas estratégicas, como as das engenharias, bem como outras ligadas à energia, ao clima, a nanotecnologia, e outras áreas interdisciplinares ainda muito incipientes no país.

Durante a reunião Aragão afirmou que o CNPq está buscando investir mais nas áreas tecnológicas com a intenção de fortificá-las e melhorar o desempenho do Brasil, principalmente na área das engenharias, que segundo ele, ainda está engatinhando.

“Apesar das áreas de engenharias terem crescido nos últimos anos, essa é uma área de graduação que anda a passos lentos. O Brasil forma anualmente cerca de 30 mil engenheiros, número bem abaixo do verificado em países como a Rússia (190 mil), Índia (220 mil) e China (650 mil). Embora o Brasil esteja em 13º lugar na produção de conhecimento global, à frente da Holanda e da Rússia, no caso de engenharia o país ocupa a 21ª posição”. senado_novastecnologias

Durante o Encontro, Aragão também mostrou evidente preocupação com a enorme evasão nos cursos de engenharia, tanto é assim que as estatísticas demonstram que 60% dos alunos de engenharia das universidades públicas desistem do curso e 75% dos estudantes das privadas também saem antes do término.

“Esses dados são preocupantes, ainda mais porque apenas 2 de cada 7 engenheiros acabam exercendo a profissão. Esse afunilamento dos cursos de engenharia começa cedo. Segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a cada 800 estudantes do ensino fundamental no País, apenas um opta por se formar em engenharia”, disse Aragão.

Reconhecendo essa área como estratégica para o país, Aragão afirmou ainda que o CNPq irá juntar esforços e planos para incentivar mais jovens para essa área. “Quanto mais o país cresce, mais aumentam as fronteiras. Precisamos investir em engenheiros, até para dar conta das demandas do Pré-sal, dos biocombustiveis, do setor espacial, aeronáutico e nuclear, que hoje já se ressentem da falta de profissionais qualificados”.

Os números mostram que o Brasil ainda está abaixo da média dos países da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômicos (OCDE) – de 2% do PIB. Mas, segundo Aragão, o Brasil está deixando de engatinhar para  finalmente entrar na corrida das nações nessa área. “O Brasil é uma economia de pesquisa competitiva e crescentemente importante. A capacidade de sua força de trabalho de pesquisadores e o investimento em P&D estão expandindo rapidamente, oferecendo novas possibilidades”, disse.

Para finalizar, Aragão afirmou que neste ano o CNPq irá focar, ainda mais, no incentivo ao desenvolvimento de tecnologia de ponta nas empresas brasileiras, ou seja, tentará atrair mais as empresas, com o intuito de oferecer recursos humanos altamente qualificados, tornando-as mais competitivas no mercado externo. “Sabemos o quanto é necessário superar o fosso entre o conhecimento científico acadêmico e as atividades de inovação e agregação de tecnologia nas empresas ”, afirmou.  

Após a exposição de Aragão, o presidente da Comissão de Serviços de Infraestrutura, Fernando Collor, observou que o Brasil não pode mais perder a oportunidade de um crescimento consistente. “Não podemos mais dar prioridade a compras de tecnologia pronta. Precisamos dar oportunidade aos nossos pesquisadores. Temos ainda um número muito baixo de patentes brasileiras. Estamos no eixo secundário com um desempenho pior em relação às patentes depositadas nos Estados Unidos, sendo também superado nesse setor pela Rússia, Índia e China”, disse.

Participantes

O painel também contou com a participação do Presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Reginaldo Braga Arcuri, do deputado federal Alceni Guerra (DEM-PR) e do diretor-presidente do Grupo Ultra, Pedro Wongtschowski.

Segundo Reginaldo Arcuri, o Brasil tem que ser ainda mais competitivo e não apenas detentor de riquezas naturais com mão-de-obra eventualmente barata. “O Brasil precisa investir em inovação tecnológica, tendo em vista que o país voltou a ter demanda por trabalho qualificado em alguns setores, como engenharia, que chega a ser maior que a capacidade do país em formar esses profissionais”.

O presidente da ADBI registrou ainda que os operários são hoje “atores e partícipes” do processo de produção, com a utilização de máquinas complexas que demandam conhecimentos. “Só vamos efetivamente responder aos desafios que o resto do mundo nos propõe se tivermos gente capacitada tanto na pesquisa básica como na operação direta de máquinas”, afirmou.

No final da audiência, o engenheiro Pedro Wongtschowski, do Grupo Ultra, que conta hoje com 10 mil funcionários no Brasil, afirmou que as empresas precisam atuar em conjunto com as universidades nos cursos de formação de tecnólogos, como forma de melhorar a formação inicial dos ingressantes no mercado de trabalho e de agilizar a adequação dos currículos.

Recomendou ainda a adoção de incentivo à pesquisa concentrada em áreas estratégicas, tendo em vista que as verbas encontram-se hoje muito pulverizadas e não favorecem o estudo de temas complexos e extensos; incentivo à pesquisa conjunta entre a empresa e a academia; criação de laboratórios nacionais geridos por organizações sociais para projetos de pesquisa da área acadêmica; e incentivo à pesquisa acadêmica com entidades internacionais.

Painéis

A intenção deste novo ciclo de debates organizado pela CI é discutir a formação e capacitação de mão de obra necessária para enfrentar os desafios nos setores ligados à infraestrutura no país. Serão realizadas mais 12 painéis, realizados às segundas-feiras até o dia 7 de junho, dentro da programação da Agenda Desafio 2009-2015.