Agências precisam trocar experiências sobre avaliações de projetos de pesquisa

Agências precisam trocar experiências sobre avaliações de projetos de pesquisa
maio 02 09:30 2019

Maria Fernanda Ziegler  |  Agência FAPESP – As pesquisas feitas em parceria entre a academia e outros setores – como indústria, startups, organizações não governamentais e o setor público – têm crescido em todo o mundo. Além de injetarem mais recursos na pesquisa, são importantes para a internacionalização, a transferência de tecnologia (comercialização), a solução de problemas econômicos, sociais e ambientais e para a construção de novas capacidades.

Essa tendência, no entanto, exige que as agências de fomento de pesquisa estejam constantemente medindo e avaliando os resultados dos programas, como estratégia para atingir maior eficiência nos investimentos, de acordo com Peter Kolarz, do Technopolis Group, consultoria britânica especializada na avaliação de ciência, tecnologia e inovação, em apresentação durante a 8ª Reunião Anual do Global Research Council (GRC).

“As fundações de apoio à pesquisa precisam conversar entre si e trocar experiências para entender métodos e estratégias mais eficientes. Todos nós tendemos a seguir os mesmos métodos e técnicas de sempre, mas precisamos olhar para o que funciona e para o que não funciona”, disse Kolarz.

O encontro do GRC, realizado em São Paulo, reúne cerca de 50 dirigentes de agências de fomento de 50 países nos cinco continentes entre os dias 1º e 3 de maio, em São Paulo. A organização é da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas e Técnicas (Conicet), da Argentina, e da German Research Foundation (DFG), da Alemanha.

Kolarz apresentou resultados do estudo sobre design de projetos, monitoramento e avaliação de resultados de 21 programas de pesquisa em parceria de nove agências participantes, da Argentina, Canadá, México, Peru, Uruguai, Arábia Saudita, África do Sul, Suíça e Marrocos. O estudo também analisou modelos típicos de parceria e principais dificuldades.

“Existe um crescimento prolífico de programas de pesquisa em parceria. No entanto, na maioria dos países, os acadêmicos têm pouco incentivo para priorizar objetivos que não sejam uma ciência excelente e os parceiros não acadêmicos têm pouco conhecimento sobre a existência desses programas de pesquisa. É preciso incentivar melhores estruturas nas instituições de ensino superior, assim como aumentar a divulgação dos programas”, disse.
Segundo Kolarz, os programas de parceria estão cada vez mais abrangentes. “A parceria pode ser não só com a indústria, mas com outros setores. Veremos cada vez mais pesquisadores colaborando com diferentes setores, sejam ONGs, setor público, indústria, empresas, áreas internacionais. O problema é saber como fazer com que programas de parceria tenham o melhor resultado possível”, disse.

O estudo observa uma série de problemas comuns entre as agências de fomento, independentemente de quão avançado seja o sistema de ciência do país.

“Talvez o principal desses problemas comuns seja a falta de incentivo para a pesquisa básica em universidades, mesmo que exista uma infinidade de motivos para financiar curiosidades básicas. Um dos motivos, inclusive, é poder ir além da ciência básica. A inovação só ocorre se houver pesquisadores capazes de entender ciência básica e fundamental”, disse Kolarz.

Segundo ele, apesar de os nove países serem muito heterogêneos, as boas práticas não vinham apenas dos países com sistema de ciência mais avançado.

“Às vezes, aqueles que estão financiando ciência pelos últimos 400 anos se tornam estáveis e ficam com sistemas fora do tempo. E aqueles que acabaram de começar têm a oportunidade de iniciar com o que há de mais sofisticado”, disse.

Kolarz comentou a importância de se criar métricas e técnicas eficientes para a avaliação dos resultados de programas. “As técnicas de avaliação não necessariamente precisam mudar conforme os diferentes objetivos de cada programa. Elas devem mudar apenas de acordo com o orçamento disponível para se fazer as métricas e avaliações”, disse.

Definir os alvos do programa logo no começo ajuda também a estipular quais são as métricas que devem ser utilizadas.

“Varia muito de programa para programa. Programas de inovação, ciência básica ou desenvolvimento sustentável exigem questões diferentes para que o sucesso possa ser avaliado. É preciso também de métricas qualitativas, pois o que constitui um projeto bem-sucedido vai além do monitoramento que as agências estão acostumadas, como número de artigo e de patentes”, disse Kolarz.

“É preciso continuar compartilhando o que funciona em termos de design de programa, porque em muitos casos os programas tentam juntar dois grupos diferentes – academia e indústria, por exemplo – para uma finalidade e por algum motivo a parceria não funciona”, disse Kolarz.

Ele ressaltou que é importante trocar experiências sobre design de programas, monitoramento de programas e sistemas de tecnologia da informação (TI).

“São três pontos muito importantes e muito difíceis de se fazer porque, às vezes é muito caro construir um sistema de TI, embora os benefícios sejam enormes para avaliação e para o usuário, e sobretudo para aqueles que querem se inscrever nesses programas e não são da área acadêmica. É algo crítico em todo o mundo”, disse.

Mais informações sobre a 8ª Reunião Anual do Global Research Council: www.fapesp.br/eventos/grc.