Editais da FAPEMA concedem benefício para mães pesquisadoras
A partir de 2022, a Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) vai permitir que as mães pesquisadoras tenham um acréscimo de um ano a mais para ser avaliado na etapa de análise curricular dos editais lançados pela instituição. Para que tenha direito ao benefício, a pesquisadora deve ter uma licença-maternidade registrada no Currículo Lattes durante o período de análise curricular previsto em cada edital.
A medida é uma forma de reconhecer as dificuldades enfrentadas pelas mulheres cientistas em conciliar a produção acadêmica constante com os desafios da maternidade, e permitir que essas pesquisadoras sejam reinseridas em projetos de pesquisa e continuem a contribuir com o desenvolvimento científico do Estado. “Infelizmente, existem mães cientistas que sofrem tratamentos preconceituosos no ambiente de trabalho, principalmente nos programas de Pós Graduação, sob a alegação de baixa produtividade durante as fases de gravidez e dos cuidados mais intensos com os filhos pequenos. Por isso, a Fapema se sensibilizou com a situação e buscou formas de atenuar este impacto para as nossas pesquisadoras”, explica Kiany Cavalcante, que além de ser a Assessora de Planejamento e Ações Estratégicas da FAPEMA, também é uma mãe pesquisadora e conhece bem essa realidade.
A possibilidade de inclusão da licença-maternidade no currículo Lattes é uma conquista recente fruto da mobilização de mulheres pesquisadoras. Em 2016 foi criado, no Brasil, o movimento Parent in Science (Pais na ciência), que se expandiu na américa latina e que tem o objetivo de levantar o debate acerca do impacto dos filhos na carreira científica. O alcance e importância dessa mobilização foram até mesmo reconhecidos internacionalmente: em 2021, a editora britânica Nature concedeu o prêmio “mulheres inspiradoras na ciência” para o movimento.
O Movimento foi idealizado em 2015 por Fernanda Staniscuaski, que é bióloga, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Fernanda sentiu na pele a dificuldade de manter a produção acadêmica esperada durante os primeiros anos da maternidade, e após conversar com outras mães e perceber que era um problema enfrentado por todas, começou as mobilizações que rendem frutos até hoje: “para além do período da licença maternidade: os primeiros anos de vida do filho são anos que demandam muitos cuidados e a gente ainda vive em uma sociedade em que cuidar dos filhos é uma tarefa das mães, então há uma sobrecarga para a mulher”, explica a bióloga.
A pesquisadora também parabenizou a Fapema pela iniciativa: “é muito bom que exista esse movimento de instituições de ensino e agências de fomento para esse reconhecimento da pausa da maternidade na carreira das cientistas. Esse acréscimo de um ano na análise do currículo é muito importante” explicou Fernanda, além de recomendar que a Fundação acompanhe de perto a eficácia dessa política pública, visto que ela ainda é muito recente no nosso país.
Para as mulheres cientistas do Maranhão, a mudança é muito bem-vinda. Rarielle Rodrigues, Doutora em ciências sociais e professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), foi mãe recentemente e sentiu o impacto em sua carreira: “por mais que tenhamos vontade e capacidade, não conseguimos produzir no mesmo ritmo de pesquisadoras que não são mães, pois ainda o cuidado recai como obrigatoriedade para a mulher”. A pesquisadora também elogiou a iniciativa da Fundação: “a proposta da Fapema leva em consideração a vida para além da academia, nos dando possibilidades de produzir academicamente em uma outra lógica em que os prazos não sejam algo sufocante”, disse.
Texto: Laércio Diniz (Núcleo de Difusão Científica Fapema)