Estudo de sinais em linguagem regional beneficia surdos e intérpretes de Libras

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Por Ivanildo Santos 25 de janeiro de 2017

DSC 0741aO uso cada vez mais comum de computadores e celulares com acesso à Internet vem provocando mudanças de paradigmas no relacionamento entre as pessoas. As ferramentas, aplicativos e softwares que surgem a cada dia trazem consigo um novo jeito de produzir, reproduzir e consumir informação. Com as redes sociais on-line, que tem como princípio essencial a interatividade, os grupos sociais têm cada vez mais voz e podem aproveitar o espaço que a Rede proporciona. Nesse contexto, a professora da Universidade Federal do Maranhão, Maria Nilza Oliveira Quixaba, percebeu a probabilidade de emergirem novas possibilidades comunicativas aos surdos, abrindo novos horizontes a eles em função dos diversos ambientes digitais que surgiram, contribuindo para dar mais autonomia e mobilidade comunicativas às pessoas, surdas e não surdas. “Com isto, pensou-se que o desenvolvimento da arquitetura de um ambiente digital (site), com sinais próprios do Maranhão, pudesse atender a uma necessidade que há muito tempo vem sendo reclamada pelos surdos e pelos intérpretes de libras, por representar a possibilidade de favorecer a interação comunicativa entre seus pares surdos de forma que os sinais necessários para isto estejam acessíveis e possam ser compartilhados”, contou a professora.

O projeto “Os Sinais Maranhenses da Língua de Sinais Brasileira: contribuições para seu uso e difusão em ambientes digitais”, desenvolvido pela professora, é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), por meio do Edital Universal, e faz um levantamento dos sinais utilizados por comunidades maranhenses para, a partir do que for levantado, formar um banco de dados em ambiente digital de acesso livre na internet. Como resultado da pesquisa espera-se, ainda, desenvolver a arquitetura de um dicionário digital, com sinais próprios do Maranhão, atendendo a uma necessidade que há muito tempo vem sendo reclamada pelos surdos e pelos intérpretes de libras, por representar a possibilidade de favorecer a interação comunicativa entre seus pares de forma mais eficaz, como destaca a professora.

Ainda em andamento, a pesquisa já pode ressaltar que os surdos se comunicam com sinais criados em meio ao seu convívio social, ou seja, nas comunidades surdas que existem espalhadas nos municípios maranhenses. “Estes sinais surgem mediante as suas necessidades comunicativas, por exemplo, os sinais de escolas que estudam, ou que seus colegas estudam, de ambientes de lazer, de comidas típicas, de bairros de São Luís, entre outros, criados com base nas suas realidades locais. Esses sinais, uma vez identificados, registrados e socializados, podem auxiliar no fortalecimento da língua de sinais, interação entre surdos e surdos e entre surdos e não surdos, o que tende a ampliar o repertório lexicográfico destas pessoas surdas e dos intérpretes de libras”, acredita a professora. Para ela, esse processo facilita a interação e, por consequência, a inclusão social, tendo em vista que o maior fator de exclusão é a comunicação.

Para desenvolver a pesquisa, a professora Nilza Oliveira investigou junto às comunidades surdas os sinais de Libras usados pela população dos municípios de São Luís, Santa Inês, Imperatriz, Caxias, Açailândia, Balsas, Itapecuru Mirim, Paço do Lumiar, São José de Ribamar e Raposa, visando à ampliação das possibilidades de uso e difusão da Libras, tanto para surdos quanto para ouvintes que se interessem pelo aprendizado dela. Até o momento, a pesquisa contou com 35 pessoas surdas participantes\informantes, dos quais 21 têm computador, 15 deles acessam a internet todos os dias, apenas dois não têm acesso à internet e dois não informaram.

A pesquisa de campo iniciou em 2015 e já foram coletados 106 sinais de bairros de São Luís, 57 de municípios maranhenses, 12 de escolas estaduais, quatro de escolas municipais, uma de Instituição de Ensino Federal, 10 de pontos turísticos e três de comidas típicas. Os próximos passos são a validação dos sinais e a gravação do sinal para postagem no site Maranhão em sinais.

De acordo com a pesquisadora, a iniciativa visa, além de estimular o uso e difusão da língua de sinais, dar suporte ao processo de ensino e aprendizagem deste tipo de linguagem no estado e, possivelmente, se tornar um referencial de busca e pesquisa na área.

Pesquisa em Ensino e Tecnologias Simbólicas

A pesquisa desenvolvida pela professora Nilza Oliveira faz parte das atividades do Núcleo de Pesquisa em Ensino e Tecnologias Simbólicas, do Departamento de Letras, do Centro de Ciências Humanas da Universidade Federal do Maranhão.

“Consideramos relevante tal iniciativa, pelo fato de não termos identificado nenhum registro nos espaços digitais e nem impresso que disponibilize essas informações, as quais possam dar suporte ao processo de aprendizagem dos sinais usados em situações específicas do cotidiano dos surdos do Maranhão”, destaca a professora. “A inexistência de trabalhos nessa perspectiva dificulta o processo inclusivo das pessoas surdas. Hoje é possível o desenvolvimento e socialização de iniciativas nesse âmbito, em função das possibilidades que a internet apresenta”, completa.

Os deficientes auditivos, observa a professora, na maioria das vezes ficam excluídos desses espaços digitais pela impossibilidade de compreender a linguagem utilizada em grande parte das interfaces. “O tipo de linguagem usada nesses ambientes pode comprometer a qualidade da interação dos indivíduos surdos. É inegável a importância das novas tecnologias por apresentar um universo de conhecimentos que circulam em tempo real na sociedade, e os surdos, como sujeitos sociais, não devem ser impedidos de ter acesso a elas”, conclui.