Incêndios florestais dominam as emissões de carbono durante secas na Amazônia, diz pesquisa do engenheiro ambiental do MA

fevereiro 21 14:13 2018

Foto: Divulgação

De acordo com o artigo publicado na revista Nature Communications, na Amazônia Brasileira, as emissões de carbono por incêndios florestais, durante secas extremas, estão superando as emissões associadas ao processo de desmatamento. Segundo o maranhense e Engenheiro Ambiental Celso H. L. Silva Junior, coautor do artigo e aluno do Doutorado em Sensoriamento Remoto no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), durante o estudo foram utilizados dados de satélite e inventários de gases de efeito estufa para quantificar os impactos de secas Amazônicas na incidência de queimadas e nas emissões associadas a este processo no período de 2003 a 2015.

Os autores descobriram que apesar de uma redução de 76% nas taxas de desmatamento nos últimos 13 anos, a incidência de fogo aumentou em 36% durante a seca de 2015, quando comparada a média dos 12 anos precedentes ao evento. Eles estimaram que incêndios florestais durante anos de seca, sozinhos, contribuem com emissões anuais equivalentes a um bilhão de toneladas de CO2 para atmosfera, que correspondem a mais da metade das emissões associadas ao desmatamento.

Engenheiro Ambiental Celso H. L. Silva Junior, coautor do artigo. Foto: Divulgação.

Esses resultados são importantes e críticos para o estado do Maranhão, componente da Amazônia Brasileira. Embora tenha apresentado uma redução de 63% nas taxas de desmatamento (PRODES/INPE), foi identificado um aumento de 44% na incidência de fogo (Projeto Queimadas/INPE) na região para o período de 2003 a 2015, comenta Silva Junior.

De acordo com o Dr. Luiz Aragão, autor principal do trabalho e pesquisador do INPE, esta foi a primeira vez que cientistas puderam claramente demonstrar como os incêndios florestais podem se espalhar extensivamente durante secas recentes e quanto este processo pode influenciar as emissões de carbono na Amazônia na escala decenal.

O Dr. José Marengo, do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN),comenta que as três “secas do século”, que ocorreram na região em 2005, 2010 e 2015/2016, foram consequência do aquecimento do oceano Atlântico tropical norte e do El Nino, e que a intensificação destes fenômenos no futuro favorece o aumento de secas. A Dra. Liana Anderson, também do CEMADEN, diz que se as mudanças do clima em um futuro próximo forem consistentes com os resultados dos modelos e ações políticas não forem implantadas para prever e evitar eficientemente a ocorrência de incêndios é esperado que as emissões de carbono associadas aos incêndios florestais sejam sustentadas de forma análoga ao que foi demonstrado no estudo.

O estudo destaca que o Brasil conseguiu avanços substancias referentes ao relato das emissões por desmatamento, no entanto, baseado nos resultados obtidos, o Brasil precisa urgentemente incorporar em suas estimativas as perdas de CO2 associadas às queimadas não relacionadas com o processo de desmatamento. Os governos precisam conhecer estes números para propor soluções pragmáticas e efetivas para manter as baixas taxas de desmatamento, encontrar novas práticas de manejo da terra e restringir a incidência de fogo. Estas ações serão de extrema importância para reduzir futuras emissões de carbono na Amazônia Brasileira.

Os autores concluem que a continuidade de atividades associadas ao uso da terra e a intensificação de secas extremas tem o potencial de aumentar as emissões por fogo não relacionadas ao desmatamento. Este cenário pode comprometer a estabilidade dos estoques de carbono florestal e reduzir os benefícios associados a biodiversidade que podem ser obtidos com os esquemas de conservação de carbono, tais como os de redução das emissões por desmatamento e degradação florestal (REDD+).

Aragão et al. (2018) 21st Century drought-related fires counteract the decline of Amazon deforestation carbon emissions. Nature Communications. DOI: 10.1038/s41467-017-02771-y. Publicação na Revista Nature: (https://www.nature.com/articles/s41467-017-02771-y)