Pesquisa apoiada pela Fapema é publicada em revista inglesa Antiquity

O estudo realizado pelo professor do departamento de Arqueologia da UFMA, Alexandre Navarro, evidencia assentamentos de palafitas no leste do Brasil.

Pesquisa apoiada pela Fapema é publicada em revista inglesa Antiquity
abril 05 18:16 2019

Texto: Leidyane Ramos

A pesquisa “Novas evidências para assentamentos de palafitas do primeiro milênio AD no leste do Brasil”, desenvolvida pelo Professor Doutor em Arqueologia e Coordenador do Laboratório de Arqueologia, Departamento de História e Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Maranhão (LARQ/DEHIS/PPGHIS/UFMA), Alexandre Guida Navarro, foi publicada em uma das revistas de arqueologia mais importantes do mundo, a inglesa Antiquity.

Para desenvolver os estudos, Navarro recebeu fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), por meio dos editais REBAX e Museus, ambos em 2013. A partir do fomento, o pesquisador escreveu artigo apresentando os resultados de pesquisa acadêmica inédita no que diz respeito ao mapeamento dos sítios e à análise do material cerâmico.

O estudo possibilitou confirmar a existência de outra modalidade de sítio arqueológico que, em todo continente americano, existe somente na região da Baixada Maranhense, na região Nordeste do Brasil, as estearias. Segundo a pesquisa de Navarro, as estearias correspondem às palafitas pré-históricas construídas sobre os lagos ou rios da região e ainda se desconhecem os reais motivos para a habitação no meio aquático ou lacustre. Por preservar bem os artefatos, estes sítios são um importante testemunho para a compreensão da vida humana na América antes do processo de conquista.

Os resultados apresentados no estudo correspondem, em sua maioria, aos sítios da bacia hidrográfica do Turiaçu, cujo rio tem 720 km de extensão e desemboca na cidade homônima. “Sua foz faz parte das reentrâncias maranhenses e é o maior desague fluvial do oeste do Estado do Maranhão. Os sítios ficam localizados numa área em que o curso do rio se dilata e forma inúmeros lagos, depois o curso volta a se estreitar novamente até desaguar no oceano”, disse Navarro.

Segundo o pesquisador, os leitos dos rios passam por um forte processo de assoreamento, a areia forma uma camada sobre os esteios, impedindo a identificação por completo. O método mais adequado para a realização da tarefa, devido às características dos sítios acima descritas, foi o mais simples: através do deslocamento com canoas e caminhamentos identificou-se cada esteio, manualmente marcados com uma estaca, de tal forma que se pudesse mapeá-los com estação total.

A delimitação do sítio foi realizada a partir da localização das pontas dos esteios, as que não estão totalmente submersas ou as que estão parcialmente. Deste modo, decidiu-se pela intervenção arqueológica através de quadrículas artificiais de 1 x 1 m para coleta sistemática do material da superfície depositado no leito do rio, cuja lâmina d’água atingia 50 cm de profundidade. Navarro levou em consideração, por outro lado, que este método também possui uma margem de falha, dado que algum esteio pôde deixar de ser visto por um dos membros da equipe. No entanto, considera-se que a maior quantidade dos esteios foi mapeada satisfatoriamente.

Em geral, os esteios estão muito próximos uns dos outros dentro do sítio. Alguns têm uma circunferência grande, podendo chegar a 50 centímetros, sendo que a maioria tem de 30 a 20 centímetros. A maioria das madeiras é de lei, destacando-se a maçaranduba (Manilkara huberi) e o pau d’arco ou ipê em Tabebuia (SP). Os esteios de maior circunferência geralmente estão num ângulo de 90 graus e se sofreram grande estresse de peso, continuaram na mesma posição. Os de menor circunferência estão ancorados por outros dois esteios em sentido oposto à inclinação do central, o que pode indicar que serviam de escoro para o esteio central.

“Geralmente, a parte de cima do esteio é lisa, indicando a erosão da água por estarem submersos há muitos séculos. Até o momento não se sabe o tamanho que eles tiveram. No entanto, um esteio que se desprendeu do sítio por conta da erosão tem 4 metros de altura. Árvores de ipê possuem troncos que podem atingir os 30 metros de altura”, destacou Alexandre Navarro.

Com o projeto, o pesquisador conseguiu descobrir que os povos habitantes da região das estearias preferem morar em locais alagadiços, onde o curso do rio se dilata, formando lagos. Na pesquisa de campo, Navarro não encontrou sítios ao longo do curso dos rios em locais onde não ocorrem as inundações por conta do período chuvoso. Porém o estudo possibilitou compreender que o padrão de assentamento e análise cerâmica das estearias trouxeram algumas evidências de costumes e atividades realizadas pelos povos das aldeias.

“A pesquisa viabilizou a descoberta de que existia uma distribuição espacial hierárquica das aldeias. A cultura material é bastante homogênea e possui alta variabilidade cerâmica distribuída de maneira hierárquica dentro dos sítios. Enfim, este artigo apresentou dados que evidenciaram que os povos das estearias mantiveram contato entre si em uma ampla escala regional e territorial. Continuaremos nossos estudos com o intuito de termos novas descobertas”, finalizou.

 

Para conferir a pesquisa na íntegra, acesse AQUI!