Pesquisa avalia a organização dos serviços do SUS que prestam atendimento a mulheres em situação de abortamento
As complicações por abortamento representam uma das principais causas de morte materna e é um grave problema de saúde pública. Quando não se traduz em estatística de internação hospitalar ou de mortalidade materna, o aborto gera sofrimentos físicos e emocionais à mulher.
Diante dessa realidade, a professora e doutora em Saúde Coletiva pela UFMA, Cláudia Teresa Frias Rios, realizou uma pesquisa com o objetivo de avaliar a organização dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) em São Luís em situações de abortamento. O estudo, resultado da tese de doutorado da pesquisadora, defendida em 2013, contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA).
A pesquisa constatou que, no período de análise, a atenção às mulheres que sofreram aborto ainda estava longe de ser humanizada. De acordo com Cláudia Teresa Rios, mudanças estruturais e organizacionais importantes precisariam ser feitas para a promoção da atenção humanizada e de qualidade às mulheres em abortamento.
Durante o mês de abril de 2011 foi realizada uma observação direta e sistemática em três maternidades de São Luís que apresentaram menor razão parto/aborto no ano de 2008. Segundo a pesquisadora, seis profissionais do sexo feminino realizaram a observação em ritmo de escala e com um roteiro pré-elaborado para avaliar a atenção prestada a mulheres em situação de abortamento, desde sua chegada e admissão, até sua alta, em todos os turnos e dias da semana. “A cada plantão era produzido um diário de campo. Um dos principais nós críticos identificados foi a falta da ultrassonografia nas 24 horas, definindo o fluxo assistencial e o tempo de internação”, explicou a professora.
Para a observação foi elaborado um roteiro para auxiliar na observação de vários aspectos, principalmente a trajetória das mulheres em situação de abortamento nos diversos momentos da atenção hospitalar (chegada, admissão para a realização do esvaziamento uterino e alta).
Também foram analisados: a forma de organização da demanda, tempos assistenciais (tempo de espera para cada momento assistencial e duração de cada momento), caracterização dos profissionais (formação, capacitação e domínio sobre a função), ambiência, interação entre os atores envolvidos e a humanização (acolhimento, direito a acompanhante, autonomia e escuta qualificada)
O estudo identificou que o procedimento para esvaziamento uterino mais realizado foi a curetagem, independente da idade gestacional, por falta de material para realizar a AMIU, procedimento de aspiração manual intrauterina indicado para o abortamento precoce. “A realização de cesárea era priorizada em relação à curetagem, retardando mais o procedimento. O processo de trabalho nos serviços priorizava o modelo médico hegemônico, centrado no procedimento e pouco voltado às tecnologias relacionais”, afirmou Cláudia Cláudia Teresa Rios.