Pesquisa estuda comunidades sertanejas da área de abrangência do Parque Nacional da Chapada das Mesas

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Por Ivanildo Santos 3 de novembro de 2016

parque-chapada-mesas2O Parque Nacional da Chapada das Mesas situa-se nos municípios de Estreito, Carolina e Riachão, sul do Estado do Maranhão. Criado em 2005, é um dos mais novos parques nacionais do Brasil. Florestas de buritizais, sertões, relevo de chapadas vermelhas, compõem um conjunto de curiosas formações rochosas, cânions, cavernas e cachoeiras. 

 

Buscando ampliar os conhecimentos sobre o modo de vida das comunidades sertanejas do Cerrado Sul maranhense, com destaque para as dimensões socioculturais e ambientais que existem na área de abrangência do parque, a pesquisadora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Ana Rosa Marques, desenvolveu um estudo com o intuito de mapear as áreas de uso do território das principais comunidades sertanejas da área em questão, além de identificar as características das construções de suas moradias, artefatos e uso dos recursos naturais.

 

“Estudar a região da Chapada das Mesas é fazer uma conexão com um Brasil que ainda possui uma população tradicional sertaneja, com dependência e até simbiose com a natureza e conhecimento dos ciclos naturais que reflete na forma de uso sustentável, sendo este aprendizado transmitido de geração em geração por via oral. O modo de vida dessa população tradicional vem sendo impactado, principalmente, em suas referências identitárias, seu fazer cotidiano, as especificidades de sua agricultura de subsistência, a forma de elaboração dos seus utensílios”, explica Ana Rosa Marques, doutora em Geografia pela UNESP.

 

Segundo a professora, durante a pesquisa foram constatadas as seguintes mudanças: as formas de produzir, com expressiva redução das áreas de roçado; a criação do Parque Nacional da Chapada das Mesas, que limita o desenvolvimento de algumas atividades, com a possibilidade de haver a retirada dessas populações de seu interior; e a implantação da hidrelétrica de Estreito no Rio Tocantins, que provocou inundações de áreas antes ocupadas por atividades agroextrativistas e pecuárias.

 

“Além desses fatores, a região da Chapada das Mesas passa por um processo de modernização dos processos de produção em um tempo extremamente rápido, com a implantação das monoculturas de soja e eucalipto, o agronegócio, que provoca o desmatamento de grandes áreas ininterruptas do Cerrado, o uso intenso das reservas de água, uso do fogo, além de práticas invasivas de controle de pragas com agrotóxicos altamente nocivos à biodiversidade”, destaca a pesquisadora.

 

Métodos do estudo

 

De acordo com Ana Rosa Marques, para estudar essa realidade tão complexa, foi necessário compreender a base física a partir da qual essa população se encontra e produz o seu modo de viver, em especial os aspectos geológicos e geomorfológicos, os quais favorecem o entendimento sobre as espécies utilizadas no cotidiano dessas populações e a localização de suas atividades produtivas. Durante a pesquisa, foi utilizada uma abordagem qualitativa, um levantamento bibliográfico, a organização de um banco de dados sobre pesquisa, levantamento de dados de campo com entrevistas abertas, arquivo fotográfico, coleta de pontos georeferenciados com uso de GPS, e observação local.

 

“Como esta pesquisa relaciona-se às questões extremamente particulares das pessoas, que vão além de números, onde a realidade não pode ser quantificada, a preocupação é social, trabalham-se os significados, as crenças, as aspirações, os valores e os comportamentos dos grupos investigados. Consideraram-se as diversas formas de apreensão da realidade vivida pelos sujeitos em questão, com base nos referenciais teóricos, com um tratamento mais aprofundado dos dados coletados, para ir além do aparente, tentar compreender o contexto coletivo produzido pelos sujeitos entrevistados”, disse a pesquisadora.

 

Benefícios da pesquisa

 

Conforme constatou o estudo, a conservação do patrimônio natural e cultural é importante como uma nova forma de valor a tudo que se refere ao lugar, ou seja, uma identificação com o simbólico que representa o Parque Nacional da Chapada das Mesas e a sua área de abrangência e todo o potencial natural e cultural que está no seu território. Todo o patrimônio cultural depende da manutenção da biodiversidade do bioma Cerrado, pois convivem há muito tempo com esse ambiente, desenvolvendo técnicas de mínimos impactos ambientais, com um manejo próprio que possibilitou a conservação ambiental e a sobrevivência dessas populações, com uma significante sustentabilidade.

 

“Esse grupo que habita a região da Chapada das Mesas, em especial os que vivem no interior da unidade, com base em observação direta, promovem um baixo impacto ambiental, pois se utilizam da madeira para a construção de suas casas e, em geral, usam a terra para fechar as paredes, como demonstrado anteriormente. Além disso, a sua agricultura é em pequena escala, o que pode ser conciliado com a elaboração do plano de manejo do parque, incluindo assim o patrimônio cultural, considerado como um valor que representa a história e a cultura desse lugar, atribuindo assim mais um atributo ao ecoturismo a ser desenvolvido no parque”, ressalta Ana Rosa Marques.