Pesquisa maranhense avalia possíveis novos tratamentos para prevenir infecções do trato genital feminino

Pesquisa maranhense avalia possíveis novos tratamentos para prevenir infecções do trato genital feminino
janeiro 08 18:50 2016

Caracterizada por inflamação e infecção da vagina, a vaginite é um problema comum na saúde das mulheres de todas as idades, atingindo um terço delas pelo menos uma vez em algum momento de suas vidas. Uma pesquisa da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) realizada em parceria com a Universidade Ceuma avalia o potencial probiótico de bactérias do gênero Lactobacillus frente a alguns patógenos comumente associados às vaginites e às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). 

0probioticosA pesquisadora Monique Santos do Carmo apresentou o resultado de sua pesquisa “Potencial probiótico de espécies de referência de Lactobacillus contra patógenos genitais”, na última edição do Congresso Brasileiro de Microbiologia, que aconteceu no mês de outubro, na cidade de Florianópolis. Para ela a oportunidade, viabilizada após submissão de sua pesquisa ao edital APEC, da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), é essencial para encontrar novos horizontes para a pesquisa já iniciada. “Editais como esse permitem não só a popularização da ciência, mas também a interação dos pesquisadores do Maranhão com pesquisadores do Brasil e do mundo. Nesse congresso, foi possível uma melhor discussão dos resultados através da interação com pesquisadores de linhas similares e para o firmamento de parcerias que auxiliem na melhoria do trabalho”, disse.

Para realizar o estudo “Potencial probiótico de espécies de referência de Lactobacillus contra patógenos genitais”, a pesquisadora Monique Santos do Carmo, o seu orientador Valério Monteiro Neto e a sua co-orientadora Maria Rosa Quaresma Bomfim, estudaram seis espécies de Lactobacillus e analisaram como estes se comportavam em diversas situações envolvendo os patógenos C. albicans, S. agalactiae e N. gonorrhoeae. “O resultado desta pesquisa foi bem promissor. Desde que os antibióticos surgiram no mercado, juntamente com seu uso indiscriminado, muitos patógenos começaram a expressar mecanismos de resistência às mais diversas classes de antimicrobianos. Foi uma verdadeira seleção bacteriana. Dessa forma, são necessárias alternativas que possam amenizar esses agentes causadores de infecções, utilizando outras fórmulas para que possamos reduzir ou eliminar as populações de bactérias patogênicas causadoras de tais doenças”, explicou.

Mais próximo de resultados
As espécies de referência estudadas foram L. acidophillus, L. brevis, L. delbrueckii delbrueckii, L. fermentum, L. paracasei, L. plantarum e L. rhamnosus. Submetidas a situações de interação com patógenos, as espécies L. brevis, L. fermentum, L. plantarum e L. rhamnosus apresentaram as características determinantes para um microrganismo probiótico, que são a aderência ao muco e às células epiteliais, a produção de substâncias com atividade antimicrobiana (figura 1), a capacidade de coagregar com patógenos, a produção de biofilmes e a capacidade de inibição da adesão dos patógenos ao muco.
A espécie L. fermemtum foi a que apresentou melhores resultados nos testes realizados, apontando um grande potencial para atuar como probiótico no trato genital feminino. Cada uma das formas de interação é apresentada no estudo e, de acordo com a pesquisadora, o resultado poderá levar a uma nova pesquisa que irá sugerir novos probióticos que possam contribuir para a redução das vaginites e vaginoses. “Já existem alguns probióticos disponíveis no mercado, porém, geralmente são aplicados aos casos das infecções intestinais. Dessa forma, outras espécies bacterianas com potencial probiótico estão em prospecção, necessitando ser melhor exploradas, para que, futuramente, possam compor um novo probiótico e assim ajudar a reduzir ou prevenir essas infecções, sem o uso de antibióticos”, disse Monique.

Futuramente, a pesquisa evoluirá para uma nova perspectiva, seguindo a mesma linha de pesquisa, mas já voltada para apresentar uma solução aplicável aos seres humanos. “A pesquisa foi realizada in vitro. As bactérias produziram moléculas que reduziram o crescimento dos patógenos e conseguiram deslocar a Candida albicans, responsável pela candidíase, do sítio de ligação à mucina, principal proteína constituinte do muco (figura 2). Agora são necessários experimentos in vivo, porque as bactérias podem apresentar comportamentos distintos em estudos deste tipo”, ponderou.
Em busca do equilíbrio da flora

A flora vaginal feminina é constituída por uma grande diversidade de microrganismos, dentre eles destacam-se as espécies de lactobacilos. Essas bactérias são responsáveis pela manutenção do equilíbrio do trato genital feminino (TGF), desempenhando tal função por meio da produção de substâncias com caráter antimicrobiano (como bacteriocinas, biosurfactantes, ácidos orgânicos, peróxido de hidrogênio, entre outros), da competição por nutrientes e por receptores de células epiteliais e pela adesão ao muco cervical, que constituem uma barreira que dificulta a colonização de patógenos e oportunistas.
Quando determinadas bactérias que fazem parte do TGF, como a Gardnerella vaginalis, se associam com anaeróbios (Bacteroides spp, Peptostreptococcus spp, Fusobacterium spp, Prevotella spp., dentre outros) e crescem de forma desordenada, é possível observar um quadro denominado vaginose. Clinicamente a vaginose é caracterizada pela ausência de sinais inflamatórios, tais como o rubor (vermelhidão) e dispaurenia (dor no ato sexual), porém, é facilmente detectável pela presença de secreção vaginal de coloração cinza com odor desagradável.

Por outro lado, alguns microrganismos aeróbios do TGF (tais como, Streptococcus agalactiae, Candida albicans, Staphylococcus aureus, Enterococcus sp., E. coli), também podem se multiplicar excessivamente em função de um reduzido número de lactobacilos e causar a vaginite, caracterizada pela presença de sinais inflamatórios típicos, tais como a vermelhidão, dispaurenia e a presença de secreção amarelada ou esbranquiçada.

As vaginites e vaginoses são muito comuns em mulheres em idade reprodutiva e atingem grandes proporções no Maranhão. Tais processos infecciosos podem ser desencadeados por inúmeros fatores, sendo eles: higiene inadequada, uso constante de roupas muito justas ou em fibras sintéticas que dificultam a ventilação da região íntima feminina, uso de absorventes internos, uso inadequado de antibióticos e contraceptivos, terapia hormonal, entre outros.
Para que um microrganismo oportunista ou patogênico cause um processo infeccioso, é necessária a realização da adesão, que se constitui em um mecanismo fundamental e indispensável, por meio do qual o patógeno se fixa ao epitélio e segue no processo de colonização. Caso uma bactéria, por exemplo, Neisseria gonorrhoeae, não consiga aderir ao epitélio, o paciente não manifestará a gonorreia. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2012), tal processo infeccioso atinge 106 milhões de pessoas anualmente e pode levar a danos permanentes no sistema reprodutivo da mulher, tais como a infertilidade.

Tratamento
As infecções do trato genital feminino devem ser tratadas assim que os sintomas se manifestam. O diagnóstico médico irá definir o melhor tipo de tratamento para cada um dos casos, que geralmente é feito com administração de antibióticos. Na maioria dos casos, as vaginites e vaginoses não causam grandes complicações, porém, existem algumas implicações sérias quando não devidamente tratadas, que variam desde a gravidez tubária até a infertilidade.
Além disso, algumas infecções genitais podem causar consequências para o recém-nascido, como é o caso da inflamação nas conjutivas, causada pelo contato da criança com o canal vaginal contaminado por N. gonorrhoeae, que pode levar à cegueira. As bactérias que causam a vaginose bacteriana podem também infectar o útero e as trompas de falópio, originando uma doença conhecida como doença inflamatória pélvica (DIP).

As infecções do trato genital também podem aumentar a probabilidade de infecção por DST/AIDS, em casos de exposição ao vírus, e ainda aumentar a probabilidade da mulher desenvolver outras doenças sexualmente transmissíveis, como a clamidíase e gonorreia.

Para minimizar a proliferação dos patógenos causadores dessas infecções, estudos buscam identificar novos e mais eficientes tratamentos que possam inibir ou reduzir as infecções.