Pesquisador da FAPEMA tem artigo publicado em revista científica internacional

O artigo foi publicado na revista científica internacional Science Wood and Technology que é considerada umas das mais importantes revistas sobre madeiras no mundo.

Pesquisador da FAPEMA tem artigo publicado em revista científica internacional
agosto 19 16:57 2021

Como objetivo identificar a madeira alagada arqueológica mais utilizada por habitantes da Baixada Maranhense, o arqueólogo e professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Alexandre Guida Navarro, juntamente com outros pesquisadores em estudo interdisciplinar de arqueologia, teve trabalho que é resultado de projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) por meio do edital Nº 047/2017 – Pós-Doutorado no país e no exterior.

O artigo The trees of the Water People: archeological waterlogged wood identification and nearinfrared analysis in Eastern Amazonia (As árvores do Povo da Água: identificação arqueológica de madeira alagada e análise quase infravermelha na Amazônia Oriental) foi publicado recentemente na revista científica internacional Science Wood and Technology que é considerada umas das mais importantes revistas sobre madeiras no mundo e que possui A1 no Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Para desenvolver o projeto, Alexandre Navarro estudou em sua essência sobre as estearias, moradias lacustres construídas com esteios (troncos de árvores) de madeira e que serviam de sustentação para aldeias indígenas, protegendo-as também das inundações. As estearias estão localizadas ao longo dos diversos lagos da Baixada Maranhense e foram construídas a partir do ano 100 d.C. a 1200 d.C. “Esses lagos se caracterizam pela formação de um sistema hídrico composto de rios, campos inundáveis e lagos de variados tamanhos que se definem pela sazonalidade do clima (as inundações ocorrem no primeiro semestre de cada ano). Os lagos da Baixada Maranhense têm origem geológica recente, pleistocênica, e se caracterizam por inundações periódicas na época das chuvas, pois acabam recebendo as águas fluviais, além de que auferem, inclusive, as águas dos rios da região quando de seu transbordamento, como o Pindaré, Pericumã e Turiaçu”, completou o pesquisador.

Há algum tempo Navarro realiza estudos arqueológicos sobre o assunto. Desde 2014 as análises demonstraram que estes assentamentos não são simples acampamentos como até então se pensava. De acordo com Navarro, a grande quantidade de artefatos com marcas de fuligem e cocção evidenciam uma ocupação de longa duração. Além disso, a grande variabilidade de artefatos, atestada por mais de 70 formas tipológicas de vasilhames, evidencia uma ocupação estável ao longo dos anos. “Gostaríamos de recordar que nosso maior achado do projeto foi um muiraquitã no ano de 2014. Sabemos que este tipo de material lítico foi retirado no lago Cajari por Raimundo Lopes no início do século XX. Esta peça é o primeiro artefato coletado nas estearias, de forma sistemática, depois dos achados de Lopes”, destacou.

A análise mineralógica do material foi realizada pelo Prof. Dr. Marcondes Lima da Costa (UFPA) e constatou-se que é de pedra verde e confeccionado a partir dos minerais tremolita/actinolita. “A peça possui 2,8 cm de altura por 1,8 cm de comprimento, tendo dois furos laterais e marcas do retoque do lascamento e polimento no verso. Com relação ao estilo, o achado indica que os povos das estearias praticavam o comércio de longa distância com viajantes do Baixo Amazonas e, possivelmente, das Antilhas e Caribe” disse Alexandre Navarro.

O sítio arqueológico estudado é denominado “Encantado,” e abrange 13 hectares e tem 171 esteios de madeira que foram mapeados. “Embora as condições ambientais a que os esteios foram submetidos fossem adversas, a anatomia da madeira foi preservada; além disso, apesar da homogeneidade da anatomia da madeira, foi possível identificar sete grupos que podem corresponder a diferentes espécies e / ou árvores”, lembrou Navarro.

Segundo o arqueólogo, a maioria (32 amostras) foi identificada como os gêneros Tabebuia / Handroanthus, ambos conhecidos popularmente como “ipê”. “As amostras de ipê foram analisadas a partir da espectroscopia de (NIR) como método complementar para caracterização da madeira. Os dados de NIR e de análise de componentes principais (PCA) permitiram a diferenciação de amostras de ipê com 80% de variação entre os dados”, afirmou.

Em novembro de 2017 a equipe esteve no sítio do Encantado, datado em 800 d.C., e coletou amostras das madeiras do sítio para serem analisadas. “Queríamos demonstrar se os esteios eram de madeira de boa qualidade ou não. A hipótese era que como esses povos indígenas construíam aldeias sobre estes troncos, estas madeiras deveriam ser de grande resistência para suportar o peso das casas e das pessoas. As árvores sempre foram importantes para fornecer madeira como material de construção para os assentamentos humanos. Essa estratégia permitiu a defesa contra ataques e pesca de subsistência”, complementou.

De acordo com Navarro, os resultados da pesquisa comprovaram a hipótese que os povos das estearias tiveram forte preferência pela madeira de ipê, por ser a árvore mais utilizada. “Eles certamente conheciam a excelente resistência a insetos e as propriedades físicas e mecânicas de sua madeira”, finalizou.

Participaram também da pesquisa as professoras Thaís A. P. Gonçalves do Laboratório de Arqueologia do Departamento de História, Universidade Federal Do Maranhão (UFMA), Silvana Nisgoski do Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal, Universidade Federal Do Paraná (UFPR) e Júlia Sonsin‑Oliveira do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UNB).

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