Série “Mulheres de Ciência” para reverenciar o 8 de março, Dia Internacional das Mulheres

Por Leidyane Ramos 8 de março de 2018

Silvane Magali Vale Nascimento

É diretora Científica da Fapema. Possui mestrado em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e doutorado no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão. É professora da Universidade Federal do Maranhão. Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Políticas Públicas, atuando principalmente nos seguintes temas: relações de gênero, políticas públicas, mulher, trabalho e desenvolvimento.

“As mulheres têm contribuído fundamentalmente para que a ciência no Brasil e no mundo obtenha êxitos, alcance os patamares de desenvolvimento, de descobertas, de criatividade,de respostas às sociedades no sentido de melhorias da qualidade de vida das pessoas. As ciências básicas,as sociais aplicadas, as áreas e subáreas de conhecimentos, todas têm uma participação muito significativa das mulheres. As áreas exatas que eram, tradicionalmente, espaços majoritariamente masculinos, hoje se constituem em campos com grande participação das mulheres, inclusive mulheres reconhecidas no cenário internacional, com prêmios, com ênfase na sua produção de conhecimento, nas suas pesquisas. Portanto, uma relevância que não dá mais para ser desconsiderada.

Uma das principais conquistas das mulheres é serem reconhecidas como pesquisadoras, como produtoras de conhecimento.E conseguem isso quando começam a mostrar de forma insistente cada descoberta, a dar visibilidade à sua produção, às suas pesquisas.Esse é, sem dúvida, um grande avanço: é a ciência falar das mulheres enquanto pesquisadoras, enquanto produtoras de conhecimento. E isso começa de fato a ser percebido no final do século XX. Nesse sentido,as mulheres vão conseguindo ser cada vez mais vistas. É aquilo que a filósofa Hannah Arendt já dizia:“tudo que não é visto nem ouvido se constitui em um mundo privado”.

Uma segunda conquista, que é decorrência da primeira, é se conseguir romper um pouco com essasdicotomias nas áreas das ciências,onde alguns espaços são destinados às mulheres e outros aos homens,algumas ciências são tidas como dos homens e outras das mulheres. Consegue-seadentrar o século XXIcom uma ruptura muito importante, que eu diria até que pode se configurar com um rompimentodeparadigma no sentido de que se quebracom essa visão do que é produção de homens e produção de mulheres,ciência de homens ciência de mulheres.

 Outro destaque é o aumento da escolaridadedas mulheres em algunspaíses, entre os quais o Brasil. Hoje nós constituímos a maioria da população com maior escolaridade. E isso é muito significativo, ainda que não venha acompanhado com as melhorias das condições salariais e de trabalho, por exemplo.

Merece ênfase tambéma inserção dasmulheres em pós-graduações. Hoje, os programas de pós-graduação contam com uma participação muito importante das mulheres, não só como estudantes, mascomo professoras de destaque,que adentram os estratos das agências de fomentos como a Capes eo CNPqcom relevância em suas produções. Ou seja: as mulheres estarem nas condições deprocessos que são importantes, como a professora Zaira Turchi, presidente do Conselho Nacional dasFundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap)- que congrega várias fundações de pesquisas -é muito relevante.  Estarmos nos processos que conduzem a ciência do País e fora dele, sem dúvida, é bastante significativo.

Apesar das conquistas que enumerei, ainda temos muitas dificuldades. Uma delas é romper com esse lugar das ciências ainda como espaço predominantemente dos homens. E quando falo lugar dos homens é porque no imaginário da sociedade ainda existe certa resistência em ver as mulheres ocupando alguns lugares na ciência que foram consagrados aos homens. As mulheres que recebem os prêmios na ciência -atribuídos historicamente aos homens –ainda têm suas conquistas pouco valorizadas.Quando temos um prêmio, por exemplo,na neurologia, que é uma área que tem sido muito discutida na atualidade, e esse prêmio é designado a uma mulher, ele merece ser muito visualizado, muito discutido,porque, para além dele, está o reconhecimento do trabalho da mulher na ciência. Ainda temos, portanto,lugares destinados às mulheres, como temos lugares destinados à população negra, e outras. Romper com esse imaginário, com essa representação social, ainda é um grande desafio.

Outro obstáculo é como as mulheres conseguem ir, por exemplo, para além da graduação, porque todo esse exercício exige, sobretudos das mulheres que são mães,conciliar sua vida privada com sua vida profissional, com sua vida no espaço público.   Esse exercício quando é solitário, quando é a mulher que exerce essa dupla função, representa ainda uma grande dificuldade. Muitas param meio no caminho ou não desenvolvem isso de maneira contínua. Isso porque o cuidar, ainda que não seja dos filhos, mas, por exemplo, dos idosos, da casa, da vida privada, conciliada com essa vida pública, ainda é uma relação difícil.

Por isso, o movimento de mulheres tem considerado a discussão do trabalho da casa, do cuidado do lar, da família como pauta da agenda pública, pauta de governo, porque não é uma questão privada. Isso condiciona a mulher em tantas outras dimensões de sua vida.É uma condicionante para sua vida acadêmica, para sua inserção maior nas ciências,para sua produção de conhecimentos”.