Em recente declaração conjunta, peritos das academias de ciências de 70 nações advertiram que as emissões de dióxido de carbono (CO2) tornam os oceanos da Terra cada vez mais ácidos e ameaçam recifes de corais e a indústria pesqueira.
O efeito poderá ser irreversível por milhares de anos, relata o documento dirigido aos países participantes das negociações climáticas da ONU, realizadas em maio, em Bonn, na Alemanha. Os especialistas querem uma redução de pelo menos 50% da produção global de CO2 até 2050, em relação aos níveis de 1990, e com cortes adicionais posteriores.
Sem uma ação como essa, as consequências serão graves, alertam os cientistas. “Modelos elaborados com os índices atuais sugerem que todos os recifes e ecossistemas polares serão drasticamente afetados até 2050, ou eventualmente antes disso”.
Outros cálculos climáticos citados no documento indicam que com os atuais níveis de CO2, até 2060, 80% das águas do Ártico poderão começar a corroer moluscos bivalves, pterópodes (moluscos microscópicos) e outras espécies que vivem na base da cadeia alimentar polar. Se o nível de CO2 na atmosfera chegar a 550 partes por milhão (concentração atual é de 387 ppm), as formações coralinas poderão se dissolver globalmente.
Para os seres humanos, o declínio na produção pesqueira mundial, resultante da acidificação, provavelmente provocaria um grande impacto.
Os cientistas já começaram a documentar como o aumento dos gases de efeito estufa provoca mudanças nos oceanos da Terra. Desde o século 17, os mares já absorveram cerca de um terço do CO2 produzido pelo homem. Isto fez com que as águas ficassem 30% mais ácidas que eram antes da expansão mundial de indústrias, veículos, aviões e outras máquinas que queimam combustíveis fósseis.
Pesquisadores acreditam que a alteração química será um grande problema para moluscos e crustáceos, corais e outras formas de vida marinha que desenvolvem conchas duras, feitas de um mineral calcário, ─ carbonato de cálcio. Se as águas oceânicas se tornarem ácidas demais, o crescimento dessas espécies poderá ser severamente afetado. As águas ácidas poderão dissolver as conchas, mais rapidamente que os animais conseguem reconstruí-las.
Martin Rees, presidente da Royal Society, advertiu que a acidificação marinha poderá levar a “uma catástrofe subaquática” se não houver cortes significativos nas emissões mundiais de CO2.
“Os efeitos serão observados no mundo todo; a garantia do abastecimento alimentar será ameaçada; a proteção de áreas costeiras diminuirá; e as economias locais menos capazes de tolerar as alterações também serão afetadas. Copenhague precisa tratar dessa ameaça real e grave”, observa Rees, referindo-se ao encontro internacional sobre clima, marcado para dezembro, na capital dinamarquesa.