Autenticidade de plantas medicinais em feiras de São Luís é analisada em pesquisa

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Por Ivanildo Santos 5 de fevereiro de 2015

carqueja-para-emagrecerO uso de plantas medicinais é milenar na China e é conhecido como Medicina Tradicional Chinesa (MTC), destacando-se a fitoterapia como um setor bastante avançado. Mas do lado de cá, no Brasil, os estudos ainda vem se expandindo quanto ao reconhecimento científico das plantas utilizadas pelos povos tradicionais no tratamento de enfermidades.

E como “fruto” desse processo de desenvolvimento, a doutora em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos, Denise Fernandes Coutinho Moraes, da UFMA, produziu a pesquisa: “Autenticidade de amostras comerciais de plantas medicinais, vendidas em São Luís – MA, usando a técnica de DNA Barcode”, apoiada pela FAPEMA, por meio do edital Universal nº 01/2014.

“Temos objetivo de avaliar mais amostras comerciais de carqueja (Baccharis genistelloides) e erva mate (Ilex paraguariesis) e ainda incluir o estudo de outras plantas, comparando amostras comerciais desses vegetais em farmácias, drogarias, feiras e mercados para realizar um estudo de como esses materiais se encontram para o consumo da população. Adicionalmente, iremos avaliar os parâmetros de pureza, ou seja, determinar a presença de contaminantes como fungos, pedras, areia, insetos”, afirmou a pesquisadora da UFMA.

“Outra questão importante a ser considerada para o entendimento da nossa pesquisa é que qualquer medicamento que seja produzido, precisa passar por um processo de controle de qualidade desde a matéria-prima até o produto acabado”, complementou a doutora em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos.

De acordo com a pesquisa, quando se compra um lote de uma matéria-prima vegetal (seja folha, caule, flor) deve-se primeiramente, antes de produzir o fitoterápico ou de ensacar o material seco em forma de sachê de folhas e cascas secas para a preparação caseira de chá, atestar a autenticidade dessa matéria-prima vegetal.

A autenticidade consiste em saber se a folha, o caule ou a flor analisada é da espécie correta que se deseja produzir o medicamento fitoterápico ou os sachês chamados de droga vegetal.

Para compreender como se atesta uma autenticidade de uma parte de uma planta, Denise Moraes explicou que, tradicionalmente, há duas técnicas: por meio das características morfológicas (macroscópicas) e anatômicas (microscópicas) e por meio do estudo de seus constituintes químicos.

“O nosso grupo possui alguns trabalhos já publicados utilizando essas técnicas para atestar autenticidade. Só para exemplificar, fizemos um trabalho com matérias de boldo (Peumus boldus) vendidos em mercados e feiras de São Luís e atestamos através do estudo de macroscopia que esses materiais estavam cheios de impureza (insetos, partes de outras plantas, areia etc) e microscópico que alguns não eram folhas de Peumus boldus. Em alguns resultados vimos que nas feiras se vende folhas de louro como se fossem folhas de boldo do Chile,” verificou Denise Moraes.

Assim, mais recentemente se desenvolveu técnicas usando o DNA das plantas e dentre elas o DNA Barcoding é uma das mais usadas na determinação da autenticidade de drogas vegetais (material seco).

O DNA Barcoding consiste na extração do DNA genômico da planta e depois a amplificação de uma parte pequena do DNA que chamamos de barcoding (código de barras) que é analisado e, então, consegue-se com mais precisão identificar as espécies e não tem o problema do material está pulverizado ou em pequena quantidade.

O risco que a pessoa pode sofrer com o uso de plantas que não tenham finalidade medicinal é de uma possível intoxicação. “Se o consumidor/paciente compra uma planta medicinal para preparação de chá e na verdade aquela espécie procurada não é a que consta no produto adquirido, que se encontra no rótulo do produto, os riscos são muitos, pois a espécie vendida pode ser tóxica e levar a um problema de saúde, por apresentar constituintes potencialmente tóxicos como alcaloides pirrolizidínicos, alcaloides tropânicos, glicosídeos cardiotônicos”, ressalta a pesquisadora.

Essas plantas medicinais são vendidas em diversos locais em São Luís e em todo o Brasil. O que se sabe é que as plantas vendidas em farmácias e drogarias na forma seca são aquelas que possuem algum tipo de notificação na ANVISA, o que consequentemente ou teoricamente, faz com que elas tenham uma segurança maior.

Segundo o trabalho, os sachês vendidos em supermercados não são classificados como medicinais, e sim como alimentos, sendo que eles também têm sua produção controlada.

“No entanto, os maiores problemas de qualidade vêm sendo atestados nas plantas vendidas em feiras e mercados, primeiro, pois não há uma legislação que regulamente esse comércio, não se sabe a origem. Nossos trabalhos mostraram resultados preocupantes quanto à autenticidade de alguns vegetais e também problemas de contaminação por fungos, com riscos à saúde da população”, observou Denise Moraes.

1pesquisadora

Uma das medidas adotadas pelo projeto para contornar o consumo e a venda indiscriminada é a orientação. “Há muitos anos, nosso grupo vem trabalhando com o controle de qualidade de matérias-primas vegetais com resultados preocupantes e como retorno, visando melhorar essa situação, procuramos conversar com esses vendedores e realizar um treinamento com uma intervenção mais profunda. Dessa forma, para proteger mais o consumidor, estamos elaborando e atualizando cartilhas que orientam para a compra e consumo seguro de plantas medicinais”, comentou Moraes.

“No Brasil, essa técnica ainda não é usada. Assim no ano de 2013 a 2014, fui fazer meu pós-doutorado na Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), com a pesquisadora e Professora Ann Hirsch (orientadora), como bolsista do CNPq e do Programa Ciências sem Fronteira para aprender o procedimento dessa técnica e tive a felicidade da FAPEMA aprovar o financiamento desse projeto. Há apenas um registro de trabalho publicado nessa área no Brasil, assim a UFMA e o Maranhão estarão na ponta na pesquisa de autenticidade de matérias-primas vegetais utilizando DNA Barcording”, destacou a pesquisadora Denise Moraes.