Conferência na 65ª SBPC discute os problemas e mostra soluções para os ataques de tubarão em Pernambuco

Conferência na 65ª SBPC discute os problemas e mostra soluções para os ataques de tubarão em Pernambuco
julho 25 15:54 2013

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Em uma das conferências realizadas na manhã desta quarta-feira, 24, na 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, foram apresentadas as principais causas dos ataques de tubarões ocorridos nas praias de Pernambuco desde 1992, início da contagem de vítimas.

O conferencista Fábio Hazin, da Universidade Rural Federal de Pernambuco – UFRPE, coordenou o diálogo entre biólogos e a comunidade na reunião “Ataques de tubarões na costa brasileira”. A apresentação foi feita pela pesquisadora Cláudia Masini da Fundação Osvaldo Cruz – Fiocruz. Entre as causas apontadas como razão para o sensível número de ataques de tubarão nos últimos 20 anos na costa de todo o país está o aumento da poluição das águas costeiras, proveniente de esgotos domésticos contendo restos de alimentos. Mas só esse fator não esclarece toda a situação.

No litoral de Pernambuco é comprovado, segundo o pesquisador, que a instalação do Porto de Suape, ao sul da capital pernambucana, o aterramento de canais, a poluição do rio Jaboatão e o rompimento de uma barreira de arrecifes, são as causas dos ataques. “Temos três espécies de tubarões circulando nessas águas atualmente: tubarão lixa, tigre e cabeça-chata. Dessas, apenas o tubarão tigre é motivo de preocupação, mas não chegava até tão perto das praias antes. O que temos é conseqüência de obras que não respeitam o ecossistema.”

O pesquisador, que faz parte do Instituto Oceanário de Pernambuco, grupo que realiza um trabalho de educação ambiental no estado, conta que os tubarões tigre e cabeça-chata são espécies migratórias que vêm do sul do Globo em direção ao norte. “Esse caminho é naturalmente percorrido em alto mar, longe da costa, onde não existem interferências ao curso a ser seguido. Entretanto, com o grande fluxo de navios vindo em direção à Suape, os animais são atraídos para a costa sul de Recife e continuam, após a parada do navio no porto, em direção ao norte da cidade e do estado, onde ocorre a grande maioria dos casos”, explicou o professor Fábio. foto2

A Faculdade Rural Federal de Pernambuco realiza, há 8 anos, um trabalho de pesquisa e ações práticas que tem contribuído, significativamente, para a retirada dos animais da costa. “Pescamos os animais, colocamos identificadores e localizadores neles e os soltamos em alto mar, onde possam continuar seu caminho sem causar danos aos humanos. Entretanto, estávamos há 7 meses sem recursos para nosso trabalho e não pudemos atuar. É muito triste que o processo burocrático impeça tão fortemente as pesquisas no Brasil e as conseqüências disso podemos ver no caso da turista de 18 anos”, comenta o pesquisador.

Um dos maiores nomes mundiais em biologia marinha e estudo de tubarões, o mexicano Ramón Bonfil, do UBC Fisheries Centre de México, estava presente na conferência e falou sobre suas impressões quanto ao Brasil no que tange a cooperação para estudos marinhos, precisamente quanto aos ataques de tubarão. “Penso que o principal problema é a responsabilidade a ser assumida. Sabe-se que os monitoramentos são essenciais para a vida, mas por questões burocráticas isso é colocado em segundo plano. Pesquisas como as realizadas pelo Instituto Oceanário de Pernambuco e as universidades são questões de vida ou morte. Na Austrália, nos Estados Unidos e África do Sul também há um grande problema com os ataques de tubarão, mas cada lugar tem suas características. Aqui é um problema novo, de 20 anos, mas quanto à sinalização e informação disponibilizada não há lugar no mundo como Recife, é o mais completo do planeta”, enfatizou Ramón Bonfil.

No final da conferência o pesquisador Fábio respondeu às perguntas do auditório e deixou a todos a sua impressão sobre a relação homem e meio ambiente. “Devemos substituir o medo e a raiva por respeito. O mar é a casa dos animais, não dos humanos. Quando as pessoas entram na água, seja na praia, em rios ou em alto mar, elas assumem o risco de entrarem na casa de estranhos, um lugar inóspito. É preciso humildade para perceber que não somos donos do planeta, mas parte dele. Os ataques de tubarão não são culpa dos animais, mas das ações humanas. Não podemos debitar na natureza o preço do antropocentrismo”, comentou emocionado o pesquisar.