Escritórios sem divisórias, a utopia que não funcionou
Para quem trabalha em escritórios sem privacidade, pode ser difícil acreditar, mas escritórios abertos, e divisórias baixas foram inventados por arquitetos e projetistas que tentavam transformar o mundo em um lugar melhor, que acreditavam que para quebrar as barreiras sociais era necessário quebrar também as paredes.
No início do século 20, arquitetos modernistas como Frank Lloyd Wright consideravam as paredes e salas fechadas elementos fascistas. O espaço e flexibilidade de um escritório aberto, segundo eles, liberariam os donos das empresas e os funcionários do confinamento. Entretanto, as empresas adotaram a ideia não por uma questão de ideologia democrática, mas pela intenção de juntar o maior número possível de pessoas. O escritório aberto típico da primeira metade do século 20 continha longas fileiras de escrivaninhas ocupadas por funcionários administrativos de terno e gravata como uma linha de montagem.
A ideia das divisórias baixas foi uma tentativa de humanizar esse ambiente. Nos anos 1950, o Quickborner, um grupo projetista alemão, trocou as fileiras de escrivaninhas por agrupamentos mais orgânicos para dar mais privacidade ─ foi o Bürolandschaft, ou “escritório planejado”. Em 1964, a Herman Miller, empresa do ramo de móveis, introduziu o sistema Action Office, que oferecia superfícies mais amplas e mesas com altura regulável. Em 1968 Herman Miller começou a vender seu projeto em conjuntos modulares, o que infelizmente permitiu que as empresas aproveitassem a economia de espaço e deixassem de lado a humanização dos empregados.
À medida que as corporações começaram a transferir todos seus empregados, e não só os funcionários administrativos, para escritórios abertos, o projetista da Herman Miller, Robert Propst, repudiou sua criação chamando-a de “insanidade monolítica”. Atualmente, muitas empresas estão retomando o conceito de fileiras de escrivaninhas pré-divisórias ─ agora denominadas “cápsulas” ─ para dar ao escritório um tom ligeiramente modernista.
Embora os espaços abertos tenham a vantagem de promover a conscientização do ambiente e o trabalho de equipe, a meta-análise publicada por Vinesh Oommen, da Queensland University of Technology, Austrália, no ano passado, no Asia-Pacific Journal of Health Management revela que eles provocam relações de conflito, aumento de pressão e aumentam a rotatividade de pessoal. Resta a esperança de que o próximo impulso idealístico dos arquitetos seja mais bem-sucedido.