Experimento tenta reproduzir origem da vida
John Sutherland, químico da University of Manchester, e seus colaboradores alegam ter descoberto como é que a ribose, o fosfato e as moléculas nitrogenadas (que apresentam nitrogênio na fórmula), conhecidas como bases nucléicas, se uniram pela primeira vez para formar os nucleotídeos – o blocos construtores do mundo do RNA, a partir do qual se acredita que a vida tenha emergido.
“Eu parti do pressuposto de que o fato de estarmos aqui nesse planeta é uma conseqüência fundamental da química orgânica”, afirmou Sutherland ao The New York Times. Seu segredo foi realizar os experimentos em estágios, adicionando o fosfato apenas no passo final. Até agora, sua equipe conseguiu construir dois dos quatro nucleotídeos; a molécula representada na figura nesta página é citosina, a base nucléica que, até agora, os cientistas eram incapazes de combinar com açúcares e fosfatos para formar o nucleotídeo de RNA fosfato de ribocitidina.
Será que esta última descoberta é realmente um avanço ou é apenas mais uma declaração chamativa para atrair o interesse dos aficionados pelos segredos do mundo científico? Jack Szostak, do Massachusetts General Hospital escreveu em um comentário que essa nova descoberta “irá permanecer por anos como um dos grandes avanços na química pré-biótica”.
Essa descoberta também serve como um lembrete de que o ritmo das descobertas científicas nem sempre é tão acelerado como gostariam os cientistas. Em 1871, Darwin postulou pela primeira vez que a vida começou em “uma pequena poça aquecida, com diversos tipos de amônia e sais de fósforo”.
Quase um século depois, Stanley Miller conduziu a bisavó de todas as pesquisas sobre a origem da vida na University of Chicago com seu colaborador Harold Urey; seu experimento deixou os cientistas com mais perguntas do que respostas.
Em 1994, Leslie Orgel escreveu nas páginas da Scientific American que cada vez mais as evidências favoreciam a teoria que a vida começou do RNA, mas ele afirmava, desesperado, que “ainda se desconhece como o RNA veio a existir”. Em 2008, os cientistas ficaram um pouco tontos demais, na Science, alguns resultados menores foram publicados, baseados em frascos esquecidos dos estudos originais de Miller e Urey.
O químico Robert Shapiro, da New York University, que escreveu sobre sua teoria alternativa sobre a origem da vida na Scientific American em 2007, contou à revista Chemistry World que os resultados de Sutherland “não têm absolutamente nada a ver com a origem da vida na Terra”.