Novas espécies podem dar fôlego comercial à pesca artesanal maranhense

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Por Ivanildo Santos 21 de janeiro de 2015

pescaMesmo pouco reconhecida, a pesca artesanal apresenta uma grande importância social e econômica no setor pesqueiro e gera um expressivo número de postos de trabalho na comunidade costeira.

No Nordeste do Brasil, de modo geral, a pesca marinha e estuarina caracteriza-se pela predominância da pesca artesanal sobre a industrial.

Dentre os nove estados dessa região, o Maranhão é o terceiro maior produtor de pescados pela pesca extrativa com uma produção de 43.780 toneladas em 2010, segundo levantamento realizado em 2012 pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).

A população ativa engajada na atividade pesqueira, cerca de 80 mil pescadores, é responsável pela maior parcela da produção pesqueira local (cerca de 95%), proveniente do setor artesanal.

Em 2010, o Nordeste obteve uma produção de 195.842 toneladas, sendo a maior das cinco regiões produtoras de pescado no Brasil. O Maranhão, apesar de possuir o segundo maior litoral do Brasil, representa somente 8,16% do total desembarcado no país.

“As comunidades de pescadores do Maranhão exploram inadequadamente os recursos pesqueiros, pois utilizam artes de pesca não permitidas pela legislação, impedindo, assim, que vários organismos atinjam a primeira maturação gonadal. Isso é um dos fatores que levam ao declínio na atividade pesqueira artesanal”, explica a professora do curso de Engenheira de Pesca, da Universidade Estadual do Maranhão, Dra. Marina Bezerra Figueiredo.

Marina Figueiredo alerta que alguns recursos pesqueiros maranhenses, a exemplo da pescada amarela, peixe serra e pescadinha, por possuírem alto valor comercial, vêm apresentando um crescente aumento na pressão de pesca, o que tem conduzido a um alto nível de exploração e a um comprometimento de estoques destes importantes recursos comerciais.

“Na região costeira, onde se distribuem os peixes de elevado valor comercial, as séries históricas de desembarques têm sido marcadas por declínios. Com isso, faz-se necessária a realização de estudos biológicos que visem identificar novos recursos pesqueiros para serem explorados podendo, assim, preservar os recursos já sobre-explorados”, afirma.

Para fazer este mapeamento, a engenheira de pesca está coordenando a pesquisa “Biologia, pesca e beneficiamento do cururuca e do tibiro: potencialidades pesqueiras para o Maranhão” com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – Fapema, por meio do Edital Universal.

Marina Bezerra Figueiredo, que é mestre em Recursos Pesqueiros e Aquicultura e doutora em Biologia Ambiental, tem como objetivo identificar a potencialidade na exploração de novas espécies de peixes a serem capturados pela frota artesanal do município da Raposa, o mais produtivo do Maranhão, de acordo com um levantamento do IBAMA realizado em 2008.

“Com base nos resultados obtidos, será possível determinar se as espécies estudadas podem ser alternativas viáveis para uma nova exploração no Maranhão, possibilitando um aumento e diversidade na renda dos pescadores locais, além da preservação das espécies que já se encontram sobre-exploradas”, esclarece.

tibiro

A pesca no Maranhão é caracterizada pela sua grande produção em relação aos outros estados do Nordeste, porém, esta é realizada de forma artesanal devido a fatores como baixa tecnologia e mão de obra empregada e carência de infraestrutura em toda a cadeia, da produção à comercialização. Neste ponto, a pesquisa desenvolvida por Marina Figueiredo pode trazer uma excelente contribuição ao setor pesqueiro maranhense.

Segundo ela, os agentes envolvidos nesta atividade vêm sofrendo problemas econômicos devido à dificuldade na captura de alguns recursos pela sua escassez e exploração desordenada, levando muitas das principais espécies capturadas a um estado de sobrepesca.

Sem muita alternativa, muitos pescadores são obrigados a capturar de forma desordenada recursos que já se encontram com um elevado grau de exploração.

“Estudos de parâmetros da dinâmica populacional como a reprodução, abundância relativa e sazonalidade são de fundamental importância na caracterização de organismos aquáticos, para assim poder determinar suas potencialidades visando a sua exploração de forma sustentável”, argumenta a pesquisadora.

É importante ressaltar que a pesca de cururuca e tibiro já é existente no local estudado, porém seu baixo valor no mercado é um dos fatores que dificultam seu aumento na produção. A engenheira de pesca conta que foram observados exemplares em atividade reprodutiva durante todo o período de coleta o que pode afirmar que a região estudada é um local de desova para as duas espécies.

“Por apresentar uma maior proporção de cururuca em estágios de reprodução avançado, é recomendável que, no período entre junho e setembro, a pesca desta espécie seja reduzida ou monitorada. Já para o tibiro é recomendável que este período seja de fevereiro a maio”, detalha.

Em geral, a análise da estrutura de comprimento de ambas as espécies foi considerada estável, uma vez que por meio de modelos estatísticos, percebeu-se que a pesca dos exemplares de cururuca e tibiro foram maiores de 30 cm, o que garante, assim, a possibilidade para sua reprodução antes da captura e, consequentemente, a preservação destas espécies e das demais que estão sofrendo com a exploração desordenada.