Incêndios ocultos na Amazônia desafiam cientistas
De seu escritório no Centro Espacial Goddard, da Nasa, Douglas Morton analisa um fenômeno oculto e danoso na Amazônia.
São incêndios rente ao solo, de baixa intensidade e expansão lenta – meio metro por minuto – mas capazes de manter suas chamas acesas por semanas e destruir áreas consideráveis de selva.
O fogo de sub-bosque (a área mais próxima ao solo) destruiu mais de 85 mil quilômetros quadrados no sul da Amazônia entre 1999 e 2010, segundo a Nasa, o equivalente a quase duas vezes a área do Espírito Santo.
Estes incêndios são um desafio para Morton e seus colegas da agência espacial dos EUA, porque os satélites, usados para detectar chamas muito maiores e mais destrutivas, não identificam facilmente fogo tão próximo do chão.
“A razão por que (os incêndios) são considerados ocultos é que o fogo queima o sub-bosque e a folhagem das árvores bloqueia o sinal do satélite”, disse Morton.
Da sede da Nasa no Estado de Maryland, ele combina suas análises remotas com dados recolhidos em visitas a áreas afetadas em países como o Brasil, para onde viaja constantemente.
O uso de satélites
Embora os satélites tenham dificuldade para detectar incêndios que ocorrem sob as copas das árvores, Morton depende deles, pois existem áreas da Amazônia que só são acessíveis com ajuda remota.
“(Estes dados) são realmente importantes para estudar a dinâmica do ecossistema da floresta amazônica”, disse.
Para evitar as dificuldades impostas pelas restrições dos satélites, Morton e sua equipe estão recorrendo ao que a Nasa descreveu como “técnica inovadora”: ao invés de se concentrar em encontrar incêndios ocultos ativos, o que eles fazem é analisar os danos que eles deixam para trás e a recuperação posterior da área.
Assim, por exemplo, foi possível determinar que em épocas de grande atividade de incêndios ocultos, como os anos de 2005, 2007 e 2010, a área de floresta afetada foi consideravelmente maior do que a área de desmatamento para a agricultura, de acordo com um estudo publicado no ano passado.
A análise também permitiu concluir que os riscos para estes incêndios são particularmente ligados às alterações climáticas: condições específicas de seca, por exemplo, são ideais para estes incêndios se espalharem por grandes áreas.
Por outro lado, os incêndios que estão ligados ao desmatamento, um dos principais problemas na Amazônia, são movidos mais por pressões econômicas, tais como o uso da terra para a agricultura.
“Obviamente, é importante saber onde há incêndios hoje, mas é a informação temporal que nos ajuda a fazer a investigação, a entender como as variações climáticas e as forças econômicas estão mudando os padrões de incêndios”, disse.
No ano passado, o governo informou que o desmatamento da Amazônia brasileira aumentou 28% em 12 meses.
Morton tem viajado frequentemente ao Brasil para entender o fenômeno. Sua última viagem à região amazônica foi em 2012, ao Estado do Pará, onde realizou medições na floresta.
Ele diz que o objetivo de suas viagens é vincular o conhecimento local com as observações remotas dos satélites. Assim, espera estudar as variações no uso da terra, as mudanças climáticas e como as pressões econômicas – por exemplo, para a agricultra – estão afetando a atividade dos incêndios.