Lentes de contato especiais podem substituir colírios

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Por Ivanildo Santos 29 de dezembro de 2009

Os colírios geralmente aliviam rapidamente problemas oculares menores, como vermelhidão, coceira e secura, mas os médicos descobriram que esses medicamentos não funcionam muito bem em doenças mais graves, como glaucoma, olho-seco crônico e úlceras de córnea. A solução, para aqueles que sofrem dessas ou de outras doenças oculares, já pode estar a caminho, na forma de lentes de contato que contêm internamente camadas de películas de polímero com medicamento e administram doses a uma taxa constante por longos períodos.

Em testes de laboratório, protótipos de lentes multicamadas se mostraram capazes de liberar ciprofloxacina (antibiótico muito usado para tratar infecções oculares e outras mais) por até 100 dias, de acordo com um estudo publicado na edição de julho da Investigative Ophtalmology and Visual Science (Oftalmologia Investigativa e Ciência Visual) por pesquisadores do Children’s Hospital Boston, do departamento de oftalmologia do Massachusetts Eye and Ear Infirmary (MEEI), do Schepens Eye Research Institute em Boston e do departamento de engenharia química do Massachusetts Institute of Technology.lentes_contato_especiais

Um dos papéis mais importantes que essas lentes podem desempenhar, de acordo com os pesquisadores, é simplesmente o de fazer com que toda a medicação permaneça nos olhos dos pacientes. Não é incomum que apenas 1% de um colírio consiga chegar aos olhos e lá permanecer por tempo suficiente para ser absorvido, completam eles.

O avanço consiste na suspensão de remédios em uma camada feita de PLGA, polímero biodegradável. O PLGA controla a quantidade de medicamentos que passa por ele a qualquer momento. Quanto mais PLGA houver em relação à medicação, mais lentamente a droga é liberada, avalia o especialista em cuidados intensivos pediátricos Daniel Kohane, diretor do Laboratório de Biomateriais e Administração de Medicamentos do Children’s Hospital e pesquisador chefe do projeto.

Os pesquisadores envolveram um filme de PLGA em outro polímero, o poli-HEMA, para formar as lentes. O poli-HEMA é um hidrogel transparente que permite que o paciente possa ver; enquanto isso, as drogas da camada degradante do PLGA escorrem por ele e chegam à superfície dos olhos. As lentes de contato que administram drogas também podem servir como um método eficiente de prevenir infecções pós-operatórias potencialmente perigosas, considera Kohane.

Kohane e seus colegas, que têm seu trabalho financiado pelo Instituto Nacional de Ciências Médicas Gerais, por quantias que giram em torno de U$$ 250 mil anuais, fazem parte de uma das várias equipes pesquisando o uso de lentes de contato macias, autoadministrantes e de várias camadas. Pesquisadores da Universidade espanhola de Santiago de Compostela, na edição de março da Biomaterials (Biomateriais), publicaram informações sobre seu trabalho no desenvolvimento de hidrogéis acrílicos com uma melhor capacidade de carregar drogas e manter uma taxa de administração controlada. O Instituto de Bioengenharia e Nanotecnologia de Cingapura anunciou, em 2004, que havia desenvolvido uma lente de polímero permeável que poderia ser preenchida com quantidades elevadas de medicações para administração ocular. Dois de seus pesquisadores receberam patentes conjuntas por “Lentes de Contato Carregadas com Medicamentos Para Tratamento Ocular” em Taiwan (2007) e Cingapura (2008).

O conceito de lentes de contato descartáveis que administrem medicamentos existe pelo menos desde a década de 60, mas as tentativas de produzir essas lentes foram incapazes de regular a difusão de drogas suficientemente bem, informa Joseph Ciolino, oftalmologista do MEEI e pesquisador do projeto. Apesar de ainda ser cedo demais para determinar o preço dessas lentes, visto que só agora estão sendo testadas em animais, Ciolino afirma que ele e Kohane acreditam que os testes em animais possam ser completados em um ano. “Eu olho para essas lentes e penso nas pessoas com úlceras corneanas, que têm que pingar gotas de colírio a cada meia hora, algumas vezes durante meses”, diz. “É um castigo cruel”. Cerca de metade dos pacientes que sofrem de glaucoma não seguem as receitas médicas por causa da dificuldade de administrar o colírio, adiciona.

Uma das questões-chave que os pesquisadores terão de responder durante os testes é quão bem essas lentes especiais servirão nos olhos dos pacientes, que podem variar em tamanho e forma, avalia Mitchell Cassel, optometrista e dono do Studio Optix em Nova York que diz estar familiarizado com o trabalho que Kohane, Ciolino e seus colegas estão desenvolvendo. “Algumas pessoas têm uma sensibilidade aguda no interior de suas pálpebras também”, adiciona Cassel.