Mulheres têm maior participação em pesquisas apoiadas pela Fapema
As mulheres são responsáveis, anualmente, por mais de 50% das propostas de pesquisa submetidas à Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Tecnológico (FAPEMA), desde 2015. Dentre os agraciados com o Prêmio Fapema, nas últimas quatro edições, a predominância também é feminina, com índices superiores a 53%.
A informação foi divulgada pela assessora de Planejamento e Assuntos Estratégicos da FAPEMA, Kiany Cavalcante, durante roda de conversa promovida pelo Instituto Federal do Maranhão (IFMA), na manhã da terça-feira (11), em programação alusiva ao Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência e na Tecnologia, no auditório Florise Peróla, Campus Monte Castelo.
No evento, foi promovida uma discussão sobre o papel das mulheres e suas conquistas na pesquisa científica e tecnológica nos últimos anos no Maranhão. “Nós temos 49% de mulheres na população mundial e, em termos de Brasil, somos 51%”, pontuou a assessora Kiany. “O número de cientistas, em relação à população mundial, é em torno de 28 a 30%”, prosseguiu. “Portanto, em termos de Maranhão, percebemos que aqui ela tem maior destaque”, ressaltou.
De acordo com a diretora de Pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (PRPGI) do IFMA, Lígia Costa, nos editais 2019/2020 de fomento à pesquisa lançados pelo IFMA, foram submetidos 1.019 projetos, sendo 41,2% de mulheres. Desse montante, foram aprovados 609 projetos, dos quais 44% de aprovações são de autoria do sexo feminino.
Ligia apontou, ainda, que a instituição federal apresentou, desde 2012, vinte e dois depósitos de patentes. Desse total, quinze, ou seja, 68%, são relativos a projetos de mulheres pesquisadoras.
Na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), encontra-se na ativa a pesquisadora com maior tempo de atividade profissional no estado: a farmacêutica Terezinha Rêgo, com 55 anos dedicados à fitoterapia. E, na Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL), criada há 3 anos, houve um incremento de 15% na participação de docentes mulheres na área de pesquisa entre 2018 e 2019.
Na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), o percentual de mulheres que orientam as pesquisas na instituição, nos últimos dois anos, é superior a 54%. E o Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA), criado há 5 anos, já conta com 117 mulheres com atuação em pesquisa, sendo 89 meninas e 38 professoras.
Leia também: Terezinha Rêgo conta a sua trajetória de 55 anos na pesquisa fitoterápica.
Mulheres em múltiplos papeis
Para a Kiany Cavalcante, a produtividade das mulheres ainda é baixo. “Temos um número significativo de mulheres da população maranhense, de pesquisadoras mulheres em atividade, porém produzindo, mesmo, há um número menor”, afirmou.
Um dos aspectos que impactam nesse cenário, segundo a professora Kiany, é a multiplicidade de papeis que o gênero feminino desempenha. “A mulher tem que se multiplicar como professora, pesquisadora, como mãe, mulher, esposa e isso é discrepante”, refletiu. “A paternidade deveria ter uma atividade tão intensa quanto a maternidade, mas os pais, na realidade, conseguem se dedicar mais à pesquisa e à sua profissão”, concluiu.
Esteriótipos e preconceito
Há algumas áreas do conhecimento em que a presença da mulher pesquisadora é mais restrita. Manuelle Serejo é mestranda em Engenharia Mecânica, na área de sistemas de energia no IFMA. Concluiu o curso técnico, graduou-se em Engenharia Mecânica e, agora, no mestrado é a única mulher da área de sistemas de energia. “É uma área predominantemente masculina, mas eu tive a sorte de me inserir num laboratório de pesquisa, desde a graduação, em que não há essa distinção”, explicou.
“É uma equipe formada tanto por homens quanto por mulheres, com projetos de automóveis e, no IFMA, eu nunca senti esse machismo”, afirmou. “Mas quando se sai do laboratório e vai para as empresas…. a gente percebe uma certa resistência por participar de uma área tão técnica”, assinalou. “Mas em tudo se deve ter persistência e determinação para alcançar os objetivos”, finalizou.
Belyt Andrade, 22, cursa mestrado em Ensino de Ciências e Matemática na UFMA. “É preciso romper com esse esteriótipo de que essas áreas são somente para os homens”, afirmou. “Quando entrei no curso de Matemática, numa turma de 40 alunos, as mulheres eram 4 ou 5”, relatou. “Sentimos logo um impacto e percebemos que as mulheres precisam se envolver mais nas áreas de engenharias, tecnologias e ciências”, destacou. “Tenho essa preocupação de que os meus alunos e colegas tenham essa visão de que as mulheres podem ocupar esse espaço”, finalizou.
Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência
O Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência e na Tecnologia foi instituído pela UNESCO em 2015, em reconhecimento ao papel das cientistas no desenvolvimento econômico e social das nações. A importância da questão da igualdade de gênero é tratada no documento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU 2030.
“É um dia de reconhecimento de mulheres e de meninas que estão começado a trajetória no mundo da pesquisa”, assinalou Kiany Cavalcante. “Estamos ocupando espaço e demonstrando que podemos atuar em todas as áreas com a nossa força e dedicação”, concluiu.
Por Cláudio Moraes
Foto: Odinei de Jesus