Museólogo da Unirio participa da Semana dos Museus e destaca Edital da Fapema
Até o próximo dia 19 de maio acontece em todo o país a Semana Nacional dos Museus. Em São Luís, uma ampla programação está sendo desenvolvida pelo Governo do Estado, com foco na preservação da história e da memória dos museus.
Neste ano, a 11ª Semana de Museus desenvolverá sua programação sob o tema “Museu (memória + criatividade) = mudança social”, temática sugerida pelo museólogo carioca e assessor cultural do Museu da República (RJ) Mário Chagas.
Mário Chagas é professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e do programa de pós-graduação em museologia e patrimônio. Na capital maranhense, ele participou da abertura da Semana dos Museus e solicitou um aplauso público à iniciativa da Fundação de Amparo à Pesquisa e Desenvolvimento Científico do Maranhão (Fapema) em disponibilizar um edital voltado para os museus. “Há de destacar o pioneirismo da Fapema em abrir espaço para esse campo”, elogiou.
O edital de Museus – que está sendo elaborado com base no já existente edital de Apoio ao Programa de Acervos Documentais do Maranhão, ADOC – deve ser lançado em breve e tem como objetivo dar suporte à conservação dos museus históricos, culturais e arqueológicos que existem no estado. As propostas que forem inscritas no edital, vão ser financiadas com recursos no valor de R$ 2 milhões, provenientes da Fapema. “Eu acho que o que a Fapema está fazendo é um exemplo que deveria ser seguido por outras FAPs. Acho que isso deve ser destacado e reconhecido como exemplar”, observou o museólogo.
Em entrevista concedida ao site da Fapema, Chagas afirmou também que propostas, como a criação de cursos para capacitação de profissionais em museus, vão ajudar a suprir uma lacuna existente hoje na formação de quem trabalha nessa área. Segundo ele, “áreas de educação, pesquisa, gestão, exposição e conservação precisam ter uma atenção do ponto de vista da capacitação e da formação”.
Entre as bandeiras defendidas por Chagas, está a da necessidade da aproximação do Museu com aqueles que não têm o hábito de visitá-los: como os idosos e os trabalhadores.
O que explica o fato do público que frequenta os museus ainda ser tão reduzido? Faltam atrativos?
Essa é uma das perguntas mais difíceis de responder. O que eu posso dizer é que a conexão com o contemporâneo atrai o público. Atrai o público algo que diz respeito a ele, de duas maneiras: pela estranheza e pela familiaridade. O fundamental é a ligação com a sociedade que estamos vivendo, que tenha interesse com aquele grupo social. Isso me parece fundamental para a atração do público. É também muito importante algo que tenha a capacidade de mobilizar o afeto, o coração do público, isso me parece indispensável. A grande possibilidade de comunicação dele com o público está no sentido de que o museu pode ser uma ferramenta de comunicação e, aí sim, exercer a sua sedução.
Quando acontecem situações como a Semana do Museu a ideia de sedução e atração, não acaba sendo facilitada?
Claro, é facilitada. Mas a experiência nos mostra que o público não se percebe como tendo direito àquele espaço. É frequente quem passa em frente a um museu e se sinta intimidado. Então quando entra e se dá conta do que está ali a pessoa acaba se encantando, gostando. Eventos como a Semana dos Museus, aqui em São Luís, escancara as possibilidades, porque o Museu foi para as ruas, os técnicos dos museus foram às ruas levando estandartes passeando e dizendo: nós estamos aqui e queremos vocês! É como se os museus dissessem “eu quero vocês”. Então esse movimento é muito importante. Mas isso precisa ter continuidade. Se for um movimento rotineiro isso pode ser altamente positivo e alcançar o objetivo de se tornar familiar com o público.
E isso pode ser feito de que forma para tornar o Museu ainda mais íntimo e familiar do público?
Eu penso que é multiplicando as ofertas, diversificando os serviços. É importante o museu também dizer às pessoas: Venham aqui! Nós temos cursos, oficinas, cinema, teatro para oferecer. Temos um conjunto de atividades e a possibilidade de atender àquilo que você quer. O que o público gostaria que o museu fizesse? Desenvolvendo uma escuta atenta o museu pode responder e aí as coisas podem mudar.
Alguns museus têm se voltado para a formação de plateia, trabalhado com crianças e jovens. O senhor acredita que esse seja um dos caminhos?
Não como caminho exclusivo. Se esse fosse, já teríamos visitas em museus públicos em excesso. Não é de hoje que fazemos o investimento com crianças para chegar a um determinado fim. Eu até diria que hoje, talvez, devêssemos não abandonar o investimento das crianças, mas diversificar. Abrir o leque. É importante investir nos velhos! Cada vez mais a população alcança uma faixa etária mais ampla então é importante investir nessas pessoas pode dar resultados grandes. Depois investir nas famílias, investir no trabalhador. Veja só: se o museu só fica aberto ao público no horário de trabalho, no horário comercial como acontece em quase todas as cidades, como é que vai ser? Falta exercitar uma imaginação para atrair o público em todas as faixas e não ficar focado apenas no público escolar que se transforma numa espécie de público de cabresto.
E o senhor acha que precisamos de mais público ou de mais museus? Ou, mais do que isso, é necessário descentralizar os museus?
Eu participo da ideia de que não existem museus demais. Nós olhamos exemplos fora do Brasil que os museus chegam a números muito maiores. Hoje são pouco mais de três mil museus e nos Estados Unidos são mais de 18 mil. Não temos museus em excesso, temos deficiência de museus. Nós alcançamos entre 20% dos municípios com museus o que significa que 80% não têm museus. Então, precisamos avançar nessa direção, diversificar. O que os municípios que não tem museus gostariam de ter? Acho que aí poderíamos inovar. Eu tenho um pensamento muito próprio difícil de ser aceito. Eu acho que os museus nascem, crescem, desenvolvem e morrem.
Como assim?
Eu acho que não há nenhum problema de um museu deixar de existir. Determinados museus deixaram de existir porque cumpriram sua função social. Outros deixaram de existir quando perderam o sentido. Esse pensamento é difícil de ser encarado, mas me parece fundamental isso ver os museus no sentido de conexão com sociedade.
Nesse sentido de conexão com a sociedade, o quanto os editais, como o desenvolvido pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico do Maranhão (Fapema), auxiliam nesse processo?
Acho que o edital, acima de tudo, precisa ser valorizado. Não são todas as FAPs que fazem isso, essa disponibilidade de abrir um edital focado no campo dos museus. Isso é louvável e merece ser destacado. Ter editais que operem nessa direção no sentido de organização de acervos é importantíssimo, assim como é importante também ter editais que contribuam para a abertura de novos museus, com pesquisas sobre a necessidade deles.
Uma das sugestões para o edital da Fapema são cursos de capacitação.
Isso é muito importante também e tem a ver com a capacitação para os profissionais que estão atuando no museu em áreas variadas. Nós precisamos de curso de capacitação de acervo; para serviços educacionais dos museus; para o desenvolvimento e renovação de exposições; para área de pesquisa dos museus; para a gestão dos museus, lembrando de alguns dos desafios que existem para os museus.
O edital de Museus da Fapema pode servir de inspiração para outras fundações, no sentido de garantir a preservação e o uso desses recantos culturais que são os museus?
Com certeza. Eu acho que o que a Fapema está fazendo é um exemplo que deveria ser seguido por outras FAPs, sabendo da possibilidade de vários editais nesse campo. Existem outras fundações que já se abriram ao campo dos museus, mas são pouquíssimas. A Fapema é pioneira e as possibilidades são inúmeras. Acho que isso deve ser destacado e reconhecido como exemplar. Abrir um edital nesse campo, também é reconhecer que ainda temos carência de mestres e doutores nessa área no Brasil. Então abrir um edital nesse campo é saber que vamos lidar com esse problema e é importante saber lidar com delicadeza com esses assuntos. Mas, o que importa é destacar o pioneirismo e esse foi o papel exemplar da Fapema nesse edital e faço questão de destacar um aplauso público para esse caminho.
A Fapema está no caminho certo para contribuir com a preservação dos museus?
Claro que sim. Todo caminho começa com o primeiro passo e é preciso começar e avançar. Essa iniciativa da Fapema já me parece que só por ter olhado para o campo dos museus merece todo o aplauso. É preciso reconhecer sempre que o primeiro passo foi dado e nas próximas edições melhora-se dando atenção a novas áreas.