Nova metodologia para identificação de bactéria
Uma dissertação produzida no Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz) estabeleceu um método inédito no Brasil, capaz de identificar mais rapidamente grupos de subtipos da bactéria Listeria monocytogenes. O microrganismo é causador de uma infecção conhecida como listeriose, transmitida principalmente por meio da ingestão de alimentos contaminados e perigosa sobretudo para recém-nascidos, mulheres grávidas, idosos e indivíduos com baixa imunidade.
“Até aqui, as análises convencionalmente utilizadas levam até 15 dias para detectar a L. monocytogenes. Essa nova metodologia o pode fazer em apenas quatro dias”, explica a nutricionista Rafaela Moledo, completando que “essa velocidade é crucial no diagnóstico e tratamento de pacientes com suspeitas de infecção por essa bactéria”. Rafaela é a autora da referida dissertação, intitulada Utilização da técnica Multiplex-PCR na diferenciação dos principais grupos de sorovares de Listeria monocytogenes isolados de queijo minas frescal.
A ideia para o trabalho de Rafaela foi inspirada em um artigo publicado por cientistas do Instituto Pasteur da França. Nele, os pesquisadores desenvolveram o chamado método “multiplex” para a técnica conhecida como PCR (sigla em inglês para Reação em Cadeia da Polimerase). Esta permite a identificação de um microrganismo por meio de um segmento de seu DNA. A inovação dos pesquisadores do Pasteur consiste em possibilitar a descrição não de apenas um, mas de múltiplos segmentos de vários genes contidos em uma amostra para análise (daí o nome “multiplex”). O fato representa não só um claro incremento na velocidade do uso da PCR, mas também maior precisão nas análises, pois, ao compararem os múltiplos resultados uns com os outros, os cientistas são capazes de definir com mais certeza os grupos de subtipos das bactérias contidas nas amostras.
Com essa literatura em mãos, Rafaela e seu orientador resolveram desenvolver e aplicar o método no Brasil. Para tanto, eles escolheram uma bactéria – a L. monocytogenes – e um alimento – o queijo minas frescal – como amostra para ser analisada pela Multiplex-PCR. “A escolha do queijo minas justifica-se por ser um alimento que não é cozido antes do consumo, o que favorece a transmissão do patógeno em questão”, justifica Victor Marin, biólogo e orientador de Rafaela.
Apesar da escolha do queijo minas frescal, Marin, que também é vice-diretor de Pesquisa, Ensino e Projetos Estratégicos do INCQS, trata de tranquilizar o consumidor: “isso não significa que esse produto necessariamente se encontre contaminado nas prateleiras dos supermercados. O que realizamos foi meramente um estudo acadêmico em determinados lotes”, esclarece.
Rafaela estudou 30 amostras de queijo, tanto por meio dos métodos convencionais quanto pela PCR. Foi nesse momento, depois de repetidas análises, que a nutricionista determinou que o método Multiplex é mais rápido e preciso. “Enquanto as outras análises só me permitiram definir a espécie da Listeria, o Multiplex-PCR não só fez isso, como me identificou subespécies ou, como chamamos mais corretamente na academia, os sorovares do patógeno”, explica a pesquisadora.
O estudo de Rafaela acabou gerando um Procedimento Operacional Padronizado (POP) para o INCQS. Por meio dele, não só os técnicos do Instituto, mas também os de qualquer outro laboratório de análises brasileiro, poderão utilizar a técnica em questão sem a necessidade de apelar para a literatura acadêmica. “O POP está pronto, basta segui-lo passo a passo”, diz.
Por fim, cabe ressaltar que o método desenvolvido por Rafaela não se limita a análises em queijo. No ano passado, chegou ao INCQS uma amostra de fluído cérebro-espinhal retirada de um bebê prematuro. Rafaela o examinou pela Multiplex-PCR e identificou a L. monocytogenes, o que acabou gerando um artigo científico, publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz em dezembro de 2008.