Óbito infantil é estudado a partir da perspectiva de mães que perderam filhos no período neonatal

Óbito infantil é estudado a partir da perspectiva de mães que perderam filhos no período neonatal
junho 09 12:34 2015

0obito-infantilO nascimento e os primeiros dias de vida de um filho é motivo de grande alegria para a maioria dos pais. Depois de nove meses de espera, chegou a hora de desfrutar da companhia do bebê. Mas nem sempre é assim. Os primeiros dias após deixar o hospital podem ser frustrantes quando por algum motivo a criança vem a óbito ainda no período neonatal, intervalo de tempo entre o nascimento e o 28º dia de vida.

Os óbitos ocorridos nesse período apresentam estreita relação com a atenção à saúde de crianças e mães, associados a falhas na assistência pré-natal e durante o parto. Diante disso, pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) analisaram o óbito infantil a partir da perspectiva de mães que perderam seus filhos no período neonatal.

Segundo a coordenadora da pesquisa, Zeni Carvalho Lamy, doutora em Saúde da Criança e da Mulher pelo Instituto Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz, mulheres que vivenciaram a perda de um filho podem apontar situações vivenciadas que vão além dos registros dos documentos oficiais e ajudar a compreender questões não reveladas.

“Para a obtenção dos resultados foram entrevistadas mulheres encontradas a partir das declarações de óbito dos recém-nascidos. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para a análise de conteúdo”, explica Zeni Carvalho Lamy.

De acordo com a pesquisadora, os dados evidenciaram que as mulheres constroem modelos explicativos próprios para a morte de seus filhos a partir de suas vivências. “A interpretação de suas falas levou à construção das seguintes categorias: percebendo o perigo; explicando as causas da morte; e encarando o processo de luto”, diz Zeni Carvalho Lamy.

Conforme relata a pesquisa, a percepção do perigo se dá pela identificação de sinais que nem sempre correspondem aos riscos biológicos; a explicação da causa da morte desencadeia sentimentos de culpa, questões relacionadas ao processo de trabalho dos profissionais e falhas da rede de atenção à saúde; já o enfrentamento do processo de luto depende de vários fatores que envolvem o processo de cuidado desde o início do adoecimento do filho, a notícia do óbito e o apoio de redes familiares e sociais.

Para que ocorra a diminuição da taxa de mortalidade no período neonatal, Zeni afirma que são necessárias estratégias voltadas para a garantia de acesso e qualidade da atenção prestada à mulher e ao seu filho durante a gravidez e parto e estratégias de atenção ao recém-nascido especialmente na primeira semana de vida.

“Diante da realidade estudada, reforça-se a necessidade de um olhar mais sensível para o enfrentamento dessa problemática. Destaca-se assim a importância de se criar estratégias para promover e assegurar o cuidado humanizado no atendimento à mulher que vivencia a situação de luto neonatal”, ressalta a pesquisadora.