Pesquisadores criam inseticida genético para mosquito da dengue
A genética pode ser a principal ferramenta no combate à dengue. Um grupo de pesquisadores brasileiros desenvolveu uma técnica que pode frear a reprodução do mosquito Aedes Aegypit, inseto que transmite o vírus da doença. Entre a espécie, apenas as fêmeas picam e contaminam as pessoas. A técnica criada nos laboratórios da Universidade da Califórnia Irvine, nos Estados Unidos impede a fêmea de voar e se reproduzir.
Segundo o biólogo e coordenador do projeto, Osvaldo Marinotti, o “inseticida genético” atua sobre um gene que armazena a actina-4. Essa substância é crucial para que o músculo da asa do mosquito fêmea se desenvolva. “Os machos têm o mesmo gene que as fêmeas, eles produzem outro tipo de actina para voar”, explica.
Sabendo das especificidades do Aedes Egypit fêmea, os cientistas criaram um pedaço de DNA com duas funções. A primeira é clonar a região que controla o funcionamento do gene da actina-4. A segunda é produzir uma toxina capaz de interromper o desenvolvimento normal dos músculos das asas. “Quando chegamos nessa fase esbarramos em um problema: as fêmeas que não voam não são capazes de se reproduzir. Isso porque a fertilização de ovos e o acasalamento estão diretamente ligados ao voo. Logo, o nosso mosquito transgênico iria morrer sem conseguir dar continuidade à linhagem”, disse.
Os pesquisadores se debruçaram mais uma vez sobre as bancadas e o resultado é animador. Mosquitos machos com esse gene se reproduzem com fêmeas normais. O gene modificado é transmitido de pai para filhos. Os filhotes machos são perfeitos e as fêmeas herdam o “erro” genético que as impede de voar e, consequentemente, a se reproduzir.
Em laboratório, os testes dão certo. Agora a pesquisa entra em uma nova fase: simular a realidade na natureza. “Os machos transgênicos foram soltos em gaiolas grandes com fêmeas e machos normais para saber se o mosquito geneticamente modificado apresenta alguma dificuldade seja de voo ou de competição para acasalar. Os resultados preliminares também são positivos”, disse o biólogo. “Esse teste vai prover a validação do mosquito transgênico para controlar a dengue na natureza.”
Trabalho em sequência
Os dados dos testes feitos em gaiolas pequenas e grandes estão sendo fornecidos a grupos de pesquisa que trabalham com modelagem matemática. O trabalho desses grupos é criar um modelo que possa dar previsões de como esse sistema vai ser útil no controle do Aedes Aegypit e da transmissão da dengue. “Queremos basicamente informações de quantos mosquitos precisam ser introduzidos para haja um impacto de redução da população do inseto em uma determinada região, qual a frequência que eles precisam ser soltos na natureza e em quanto tempo esse novo gene vai desaparecer completamente dessa população”, afirma.
Assim como qualquer outro produto transgênico que é desenvolvido, os mosquitos precisam passar por um processo de aprovação e regulação. “Esses dados gerados hoje são essenciais para que as autoridades em saúde pública e controle do meio ambiente aprovem a utilização desse produto. Esse é o próximo passo”, conta o coordenador do projeto.
A dengue
A dengue é um dos principais problemas de saúde pública no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas se infectem anualmente em mais de 100 países, de todos os continentes, exceto a Europa. Cerca de 550 mil doentes necessitam de hospitalização e 20 mil morrem em conseqüência da dengue.