Preferência por certos sabores pode revelar traços da personalidade

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Por Ivanildo Santos 11 de janeiro de 2010

De hoje em diante, quando alguém lhe abordar com a máxima “Diga-me o que comes e te direi quem és”, pense bem no que vai responder. Segundo pesquisadores italianos, que conjugam medicina, nutrição e psicologia, a preferência por doce ou salgado e até a predileção por sorvete de casquinha ou picolé podem revelar características da personalidade.

Segundo o psicólogo italiano Fernando Dogana, autor do livro Tipi D’oggi, profili psicologici di ordinaria bizzarria, ou “Tipos de hoje, perfis psicológicos de ordinária extravagância” (sem tradução para o português), gostar mais de alimentos salgados ou adocicados é algo que tem início nos primeiros anos de vida.

comida_doceEm um estudo, ele observou que apreciadores de doces possuem características mais ligadas à criança. “Esse perfil psicológico pode estar preso às orientações infantis, fato que confere maior dificuldade para dar o salto evolutivo em direção à maturidade”, relata o autor.

Outra peculiaridade apontada pela pesquisa foi a maior prevalência de códigos tidos como femininos nas condutas de quem prefere chocolate a picanha: dependência, busca por ambientes acolhedores e protetores, capacidade de compartilhar, tendência à introversão e inserção em relações de conforto recíproco. Para eles, afirma Dogana, “a alimentação tem importância afetiva e o prazer consequente é reconhecido como uma sensação intensa, mas tranquila; envolvente, porém associada à transgressão e regressão infantis”.comida_salgada

Já os amantes do salgado, segundo os resultados, são indivíduos detentores de grande energia. A tendência é que sejam mais assertivos, dinâmicos, extrovertidos e empreendedores. Parecem ter um comportamento racional/funcional em relação à própria alimentação e o prazer à mesa depende da presença de estímulos fortes. “Nos relacionamentos interpessoais, são seguros de si, autônomos e sua franqueza beira à agressividade”, complementa.

A pesquisa contou com 300 homens e mulheres, de 15 a 50 anos. O método utilizado para análise foi um questionário adaptado que explorava a origem dos gostos, além de vivências e hábitos alimentares.

Comida e emoções

Estudioso das influências psicossociais na relação dos homens com a comida, o neurologista e psiquiatra Giuseppe Ierace, ex-professor da Universidade de Messina, na Itália, diz que existe uma ligação direta entre o chamado lobo límbico, centro das emoções no cérebro, e o córtex gustatório e olfatório, regiões onde os sabores e odores são processados. “No passado, as preferências de gosto eram uma resposta aos condicionamentos biológicos, e a sobrevivência dependia completamente desse sistema”, completa o especialista.

Evoluído, o comportamento alimentar dos homens se tornou complexo e movido pelo desejo de prazer ou pelo evitamento do desprazer (hedonismo). Entretanto, comenta o médico italiano, “comer somente o que é mais saboroso pode ser uma das prováveis causas da dificuldade de gerenciar o equilíbrio físico e energético”.

Clima, situação geográfica, cultura e religião, aspectos históricos, econômicos, psicológicos e funcionais aumentam a lista de fatores que influenciam as escolhas pessoais. As pessoas buscam não só alimentos necessários para as funções vitais, mas também escolhem itens que têm influência sobre as emoções – um prato de massa no jantar tem função sedativa para o sistema nervoso, assim como um café ajuda a combater o desânimo.

Gosto não se discute

Mas por que uma escolha alimentar prevalece sobre outra? Responder a essa pergunta não é tarefa para amadores. Some-se a isso o fato de que cada pessoa reage aos estímulos do paladar de forma única e, portanto, mesmo que estejam inseridos em um mesmo contexto, dois indivíduos podem ter reações diferentes à mesma comida. Os cientistas afirmam que o que se tem são apenas evidências. E elas levam a crer que componentes biológicos e fisiológicos estejam envolvidos no sistema das preferências.

Além disso, o gosto de qualquer pessoa pode se modificar diante de alterações no organismo, como explica Dogana. Exemplo disso é alteração da percepção dos sabores em decorrência de um resfriado. “A gravidez é outro estado no qual o desejo por alimentos nunca apreciados pode se manifestar”, lembra.