Professores da UFMA pesquisam sobre Trabalho Escravo no Maranhão

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Por Ivanildo Santos 19 de janeiro de 2011

Tambor de crioula, São João, Festa do Divino, Bumba meu boi, Tambor de mina. Todas essas manifestações culturais fazem parte do Maranhão, assim como a culinária, a arquitetura, e as belezas naturais do estado, que encantam maranhenses e turistas de todo o país. Mas o mesmo estado de tantas belezas é o segundo no ranking do trabalho escravo no Brasil, perdendo somente para o Pará.

trabalho_escravoA exploração de trabalhadores em condições análogas à escravidão é um problema que afeta diversas regiões brasileiras, principalmente a região Amazônica, que compreende os estados do norte do país, entre eles o Tocantins, que possui o mesmo número de casos que o Maranhão. A chamada “Lista Suja” do trabalho escravo no Brasil, divulgada, este mês, pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostrou que nos últimos anos trinta e oito mil trabalhadores foram resgatados, mas ainda há muito a se fazer.

Sob essa temática nasceu o projeto de pesquisa, “Vozes da Esperança: estratégias de comunicação em redes de aliciamento e denúncia no contexto do trabalho escravo contemporâneo no Maranhão”, financiado pela FAPEMA e coordenado pela Profa. Flávia Moura, do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão. Iniciado a partir da pesquisa de mestrado da professora Flávia, “Escravos da precisão”, o projeto “Vozes da esperança” verificou em quase um ano de pesquisa que a maioria dos trabalhadores escravizados não se auto-identifica como escravos, a denominação é dada pelos ficais do MTE. “Alguns trabalhadores não sabem nem o que quer dizer o termo trabalho escravo contemporâneo”, explica a coordenadora do projeto.

Motivados pela necessidade, aliada a promessas de trabalho por empreitada, os trabalhadores são levados para regiões distantes, onde se deparam com uma realidade totalmente diferente daquela prometida e descrita pelos aliciadores. As condições de trabalho, saúde, alojamento e alimentação são péssimas. Além disso, ao chegar ao local de trabalho os aliciados descobrem que já possuem uma dívida com o “empregador”, decorrente do transporte até o local, entre outras coisas.

Essa dívida, só tende a aumentar e, segundo a pesquisadora Flávia Moura, é um dos principais fatores relacionados ao cerceamento da liberdade, muito mais do que a violência, o que não quer dizer que esta não exista. De acordo com a pesquisadora não se pode dizer que a vigilância armada, coibindo o direito de ir e vir, não exista, mas a escravidão por dívida é predominante.

Além da professora Flávia, a pesquisa conta com os professores Marcelo Sampaio Carneiro, do Programa de Pós-graduação de Ciências Sociais da UFMA, e Francisco Gonçalves da Conceição, do Departamento de Comunicação Social da UFMA. Visitas foram realizadas aos municípios de Codó e Açailândia, o segundo do Maranhão na “Lista Suja”, para observar os sistemas de comunicação utilizados pelos aliciadores, que “chamam os trabalhadores para essas condições análogas ao trabalho escravo”, como explicou a professora Flávia Moura.

“Vozes da esperança”, que está em fase de análise dos dados que foram coletados, identificou como veículo principal utilizado para aliciar trabalhadores anúncios em rádios e alto falante próximos a comércios. O projeto, a partir do início do ano letivo de 2011, “começa a trabalhar a questão da proteção, da rede de denúncia com relação a esses trabalhadores que foram encontrados nessas condições”, afirmou a professora de comunicação.

Perfil do pesquisador:

Flávia de Almeida Moura é professora do departamento de Comunicação Social da UFMA. Ela é graduada em Comunicação com habilitação em Jornalismo pela Universidade de Taubaté (SP) e Mestre em Ciências Sociais pela UFMA. Coordena o projeto de pesquisa Vozes da esperança, e integra o Núcleo de Estudos e Estratégias de Comunicação Social da UFMA.