Projeto de restauração revitaliza acervo de santos de roca do Museu de Alcântara

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Por Ivanildo Santos 6 de abril de 2015

0DSC 8542Quem mora ou visita Alcântara pode conhecer uma parte importante do patrimônio cultural, artístico e religioso do nosso estado e do Brasil, que estava se deteriorando e até mesmo correndo risco de desaparecer.

Trata-se de onze esculturas de santos construídas em madeira – os chamados Santos de Roca –, que foram restauradas e estão à disposição do público desde dezembro de 2014, no Museu Histórico de Alcântara (MHA), onde foi montada uma expografia com as imagens.

O projeto “Restauração e Preservação do Acervo de Roca do Museu Histórico de Alcântara” teve o apoio da FAPEMA, por meio do edital Acervos Museológicos nº 19/2013. Coordenado por Maria da Graça Costa Nina, encarregada dos Serviços de Difusão Cultural do Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM), o trabalho teve como primeira fase uma oficina de restauração destinada a capacitar técnicos para atuarem no MHA e em outras instituições do estado.

Por meio do projeto, também foi adquirido o mobiliário adequado para a exposição das peças e a confeccionados folders e catálogo com o acervo do museu. “Com esse projeto, o MHA busca cumprir sua missão de salvaguardar e fazer a divulgação do passado histórico e cultural, dedicando-se a discutir tudo que possa se relacionar nesse contexto como os diversos aspectos da cultura atual”, declara Maria da Graça Costa Nina.

Santos de Roca

Também conhecidas como “imagens de bastidor” ou “imagens de vestir” – porque tinham a possibilidades de serem vestidas durante eventos religiosos –, essas esculturas sacras chegaram ao Brasil a partir do século XVII, popularizando-se no século XVII e primeiros anos do século XIX. A partir daí, os Santos de Roca começaram a perder prestígio, devido às mudanças sociais e ao processo de industrialização que levaram à utilização de imagens em gesso. Mesmo assim, algumas instituições religiosas continuaram preservando esse patrimônio.

Em Portugal, elas eram comuns nas igrejas nos séculos XVI e XVII, como atestam inventários e as próprias Constituições Sinodais da época. Seguindo a tendência ibérica, no Brasil, a prática das procissões com imagens vestidas e articuladas foi introduzida a partir do século XVII, mas foi na segunda metade do século XVIII e nos primeiros anos do XIX que esse tipo de imaginária atingiu maior popularidade. A popularidade das imagens de roca, além de ter ligações com a dramaticidade e o luxo, que caracterizam os cânones estéticos barrocos, estava associada também à realização das procissões, que passaram a ser comuns na época.0DSC 9570

No Maranhão, os Santos de Roca eram utilizados na procissão de cinzas e pertenciam originalmente à Ordem Terceira de São Francisco, fundada na cidade de Alcântara, por Frei João de Santa Tereza, no ano de 1763. Até o início do século XVIII, os Terceiros ficavam na extinta Igreja de Santa Quitéria.

Depois se mudaram para sua própria igreja, finalizada no ano de 1813. Devido a problemas estruturais, a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco logo se arruinou, e as imagens foram transferidas para a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e, de lá, para o Museu Histórico de Alcântara, onde se encontram atualmente.

“Embora na maioria dos casos descontextualizadas dos rituais católicos de hoje, essas esculturas despertam cada vez mais interesse por seu valor como expressão cultural”, explica a diretora do MHA, Lia de Macêdo Braga Oliveira. Segundo ela, o conjunto de roca do MHA estava em péssimo estado de conservação, devido à inexistência de restauradores no município de Alcântara e também às condições inadequadas do local de exposição, o que comprometia a integridade física e estética das peças. Isso motivou a retirada de parte do acervo e a criação de um projeto de restauração e conservação dessas obras.

O acervo de roca do MHA também foi contemplado no Projeto Museu Histórico Digital de Alcântara e está disponível no espaço virtual da instituição (museuhistoricodealcantara.ma.gov.br). “Nosso objetivo era devolver à comunidade um patrimônio artístico e cultural de grande importância não só para a cidade de Alcântara como para o Maranhão e para o Brasil”, comemora Lia Macêdo.

Preservação

O edital Acervos Museológicos foi criado em 2013 a partir de uma parceria entre a FAPEMA e a Secretaria de Estado da Cultura, visando à manutenção e preservação de todo acervo pertencente aos museus do estado do Maranhão.

O edital possibilitou à academia desenvolver projetos que proporcionem tecnologias de sistematização da pesquisa ao acervo, através de sua digitalização. Além disso, outro objetivo é treinar pessoas para a prática da restauração e higienização dos acervos, gerando conhecimento, profissionalização de pessoas da comunidade e preservação do material museológico.

Fotos: Albani Ramos